quarta-feira, 4 de janeiro de 2023

O DIA EM QUE DEI DE CARA COM O REI PELÉ NO MARACANÃ

 POR ROBERTO MAIA

À direita na foto, eu tive a oportunidade de participar de algumas entrevistas com o Rei Pelé, o mais genial jogador de todos os tempos. (Reprodução TV Globo)

O assunto dessa semana não poderia ser outro senão a morte do cidadão brasileiro Edson Arantes do Nascimento, aos 82 anos de idade. Mas, o Rei Pelé, um verdadeiro mito e cidadão do mundo, segue vivo pois é imortal.

Ao longo de minha carreira como jornalista tive a oportunidade de participar de algumas entrevistas com Pelé. Nenhuma enquanto ele destruía adversários em campo. Todas depois que ele deixou de jogar. Uma delas quando ele foi ministro dos Esportes na gestão do presidente Fernando Henrique Cardoso.

Teve até uma entrevista exclusiva conseguida de maneira inusitada. No dia 3 de setembro de 1989 fui ao Maracanã para cobrir o jogo entre Brasil e Chile, válido pelas eliminatórias sul-americanas para a Copa do Mundo de 1990, na Itália. Eu era um jovem repórter em início de carreira e à época trabalhava na rádio Iguatemi de Osasco.

O jogo ganhou repercussão mundial por causa de um incidente. A Seleção Brasileira vencia pelo placar de 1 a 0, com gol de Careca. O resultado dava a classificação ao Brasil e eliminava o Chile. Até que, aos 24 minutos do segundo tempo, um rojão foi disparado ao campo e caiu próximo ao goleiro chileno Roberto Rojas, que caiu no chão, fingindo estar ferido.

O jogo não terminou. Se o Brasil fosse punido o Chile herdaria a vaga para a Copa. A polícia identificou a torcedora que teria atirado o rojão. Mas, no dia seguinte, várias fotos e imagens de televisão revelaram que o foguete não atingiu Rojas. O artefato explodiu pouco mais de um metro de distância do goleiro.

O jogo ficou marcado para história como um dos acontecimentos mais vergonhosos do futebol mundial. O Chile foi banido das eliminatórias para a Copa do Mundo de 1994 e Rojas teve a carreira encerrada ao ser banido para sempre do esporte. A fama repentina da torcedora de 24 anos a levou a ser capa da revista Playboy e ela ficou conhecida como a “Fogueteira do Maracanã”.

Contei tudo isso para voltar ao encontro com Pelé onde consegui uma entrevista exclusiva. Após o termino do jogo sai da tribuna de imprensa para ir à sala onde seria realizada a coletiva. Caminhei por um corredor à procura da escada que me levaria ao térreo do estádio. Não encontrei a saída e ao abrir uma porta qualquer dei de cara com Pelé. Foi como se eu estivesse frente a frente com uma entidade superior, um ser mitológico que paira acima dos humanos. Sim, tomei um baita susto!

Sozinho, Pelé também estava perdido à procura das escadas. Percebi nesse momento que ele também era humano como eu. Lembro que ele perguntou se eu sabia onde era a saída. Mas não me lembro se consegui responder alguma coisa. Mas logo o meu instinto de jornalista me trouxe de volta à Terra. E, sacando meu gravador pedi para ele dizer algumas palavras sobre o incidente que marcou o jogo.

O Rei gentilmente se dispôs e falou enquanto caminhávamos em busca da escada. Achamos a saída e o maior atleta do século 20, autor de 1.283 gols e único jogador a ganhar três Copas do Mundo se despediu de mim com um sorriso e desapareceu em meio à multidão de súditos que logo o reconheceram. Eu então respirei fundo e fui para a entrevista coletiva sem me dar conta que tinha um tesouro comigo.

Infelizmente não tenho uma foto desse dia histórico. Até porque os celulares com câmeras ainda eram coisa de ficção científica. Tão pouco tenho a gravação da entrevista exclusiva com o Rei. Mas, tudo bem, porque hoje posso dizer e deixar registrado aqui que um dia eu tive o privilégio de estar junto e falar com o maior e mais genial jogador de futebol de todos os tempos.

Que o Edson Arantes do Nascimento descanse em paz, porque o Pelé é eterno!

ROBERTO MAIA É JORNALISTA, CRONISTA ESPORTIVO E EDITOR DO PORTAL TRAVELPEDIA.COM.BR

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