quarta-feira, 29 de março de 2017

Sem dinheiro, Corinthians recorre aos jovens do "terrão"

POR ROBERTO MAIA

Após ser emprestado à Ponte Preta em 2016, Maycon 
ganhou a posição no meio de campo do Timão
O torcedor de futebol é apaixonado e normalmente coloca a emoção acima da razão. Por esse motivo, na maioria das vezes, não consegue enxergar com clareza as contratações estranhas feitas pelo seu clube de coração. Mas não é burro. Percebe logo que tem jogadores que não merecem vestir a camisa do seu clube. E, nesses casos, faz marcação cerrada e é implacável. Principalmente se os tais jogadores não demonstrarem muita disposição e raça. É o caso de Romero do Corinthians. Não é nenhum craque, mas caiu nas graças da torcida porque mostra empenho é muito fôlego para cumprir as funções táticas pedidas pelo treinador.

Fagner estreou no time principal em 2006 com apenas 17 anos; 
hoje é titular absoluto e está na seleção brasileira

Se o torcedor parar para pensar, logo perceberá que tem coisas estranhas em certas contratações. É comum ouvir nas arquibancadas a frase: “ou é incompetência ou interesse dos dirigentes”. E eu concordo com essa afirmação. Senão como entender que alguns jogadores limitadíssimos tecnicamente consigam vestir as camisas dos principais clubes brasileiros.

Guilherme Arana é o dono da lateral-esquerda do Timão

E, quando o dinheiro fica curto, recorrem para os garotos das categorias de base. Mas apenas quando não têm outra alternativa. Muito triste isso. O que deveria ser a finalidade principal passa a ser um recurso desesperado. E olha que os grandes clubes investem muitos milhões na formação dos atletas. 

Entre os times de São Paulo, apenas o Santos realiza com sucesso o trabalho de formação e transição de jovens jogadores para o time principal. E tem lucrado muito com isso, basta ver as revelações dos últimos anos.

Jô estreou no time profissional com apenas 16 anos

O Corinthians que passa por séria crise financeira não teve outra opção e está recorrendo aos “pratas da casa”. Não me lembro de quando foi a última vez em que o Timão promoveu tantos jogadores formados nas categorias de base. Alguns deles parecem já ter agarrado a oportunidade e garantem lugar no time principal. São os casos do volante Maycon e do lateral-esquerdo Guilherme Arana, titulares absolutos do treinador Fábio Carille. Maycon, aliás, praticamente colocou na reserva Felipe Bastos, Camacho, Giovanni Augusto e Guilherme que foram contratados para serem titulares. Esses e mais Marlone, que preferiu defender o Atlético Mineiro por emprestimo até o final do ano.

O elenco profissional do Corinthians está repleto de 
jovens promissores como Léo Jabá e Pedro Henrique 

Outros como os goleiros Matheus Vidotto e Caíque; os laterais Léo Príncipe e Moisés; o zagueiro Pedro Henrique e Léo Santos; os volantes Marciel, Mantuan e Warian; os meias Pedrinho e Rodrigo Figueiredo; e os atacantes Léo Jabá e Carlinhos também integram o elenco profissional alvinegro. Quinze jogadores formados no chamado “terrão”, sem contar Fagner e Jô que também foram revelados no Timão.

Entre os garotos corinthianos a torcida aposta no talento do meia Pedrinho, que foi eleito o craque da Copa São Paulo de Futebol Júnior 2017 na conquista do décimo título alvinegro. Ele estreou no time profissional na derrota para a Ferroviária, em Araraquara.

Pedrinho foi eleito 
o craque da Copa São 
Paulo de Futebol Junior 2017  

Apesar de tantos jovens promissores sendo prestigiados, o diretor das categorias de base do Corinthians, Fausto Bittar Filho, pediu demissão essa semana por não concordar com mudanças que o presidente Roberto de Andrade quer fazer no departamento. Vai entender uma coisa dessas.


O novo diretor é Carlos Nujud, conselheiro vitalício do clube e ex-diretor de futebol entre 1998 e 2000, quando Alberto Dualib era presidente. Aos torcedores resta ficar de olhos bem abertos para que o processo não seja interrompido. Afinal, nos bastidores do futebol existem as chamadas forças estranhas!

Fotos: Agência Corinthians/Divulgação

quinta-feira, 23 de março de 2017

Cerveja, chocolate e futebol, as paixões dos belgas

Por Roberto Maia

Verdadeira paixão nacional, a Bélgica tem mais de 2 mil tipos 
diferentes de cervejas (Foto: Roberto Maia)

Em recente viagem de trabalho à Bélgica, logo percebi que a maioria das pessoas com as quais conversei gosta muito de futebol. Acho que tanto quanto de cerveja e chocolate, outras saborosas paixões dos belgas. Aliás, a primeira divisão do futebol belga chama-se Jupiler League, assim nomeada pois o patrocinador principal é a fábrica de cerveja Jupiler, uma das mais famosas e consumidas no país.

O futebol na Bélgica é praticado desde o final do século 19 e a Federação Belga de Futebol foi fundada em 1895. No início do século 20, a seleção nacional disputou seu primeiro jogo - em 1º de maio de 1904. O adversário foi a França e o jogo terminou empatado em 3 a 3.

A Jupiler League é disputada por 16 equipes. O time campeão ganha vaga para disputar a Liga dos Campeões, enquanto o vice-campeão vai para a repescagem. As três últimas na tabela são rebaixadas para a segunda divisão.

Nessa atual temporada 2016/2017 são os seguintes os times que disputam o campeonato da primeira divisão: RSC Anderlecht, Club Brugge, St.Truiden, Waasland-Beveren, Standard Liege, Oostende, Gent, KV Mechelen, Kortrijk. Mouscron-Peruwelz, Eupen, Zulte-Waregem, Lokeren, Charleroi, Westerlo e Genk.
As equipes com maior número de torcedores são o Royal Sporting Club Anderlecht (de Bruxelas) e o Club Brugge K.V. (de Bruges). Não por acaso os dois times são os maiores campeões da Jupiler League. Jogo entre as duas equipes é o maior clássico do futebol da Bélgica.

O RSC Anderlecht tem mais de 60 títulos oficiais, incluindo 
cinco títulos em competições europeias (Foto: rsca.be)

O RSC Anderlecht, fundado em 1908, é o maior time do país em número de conquistas – mais de 60 títulos oficiais -, incluindo cinco títulos em competições europeias. No campeonato nacional da Bélgica contabiliza 33 conquistas. Seu estádio, o Constant Vanden Stock, tem capacidade para receber 28 mil pessoas.
Já o Club Brugge K.V., fundado em 1891, é o maior campeão da Supercopa da Bélgica, com 14 títulos; e da Copa da Bélgica, com 11 triunfos. É segundo maior vencedor do campeonato nacional com 14 conquistas. Maior orgulho dos seus torcedores é ser o único time belga que já disputou a final da Liga dos Campeões da UEFA, em 1978, quando foi derrotado pelo Liverpool por 1 a 0.

O Club Brugge K.V. é o único time belga que já disputou a 
final da Liga dos Campeões da UEFA (Foto: clubbrugge.be)

O Brugge manda seus jogos no estádio Jan Breydel, localizado em Sint-Andries, no subúrbio da pequena Bruges, a principal cidade turística da Bélgica. Tem capacidade para 30 mil torcedores.

Os cinco principais jogadores belgas de todos os tempos são os seguintes:

Eric Gerets – Lateral-direito, atuou em 86 jogos da seleção da Bélgica. Jogou entre 1971 e 1992.

Vincent Kompany – Zagueiro, começou sua carreira no Anderlecht. Conquistou por duas vezes a Liga Belga. Jogando pelo Manchester City (Inglaterra) conquistou a Premier League em 2011/2012 e 2013/2014. Disputou mais de 60 jogos com a camisa da seleção belga. Disputou os Jogos Olímpicos de 2008 e a Copa do Mundo de 2014.

Eden Hazard – Conhecido mundialmente, começou a carreira no Lille (França). Transferido ao Chelsea (Inglaterra) conquistando a Liga dos Campeões em 2012/2013, a Copa da Liga e a Premier League de 2014/2015.

Joseph Mermans – Foi um dos maiores artilheiros da história do Anderlecht. Na temporada de 1947, marcou 38 gols no Campeonato Belga. Jogou 56 vezes pela seleção.


Michel Preud'homme – É considerado um dos melhores e mais completos goleiros da Europa de todos os tempos. Sua principal conquista foi a Supercopa da UEFA de 1988, quando seu time, o Mechelen, derrotou o poderoso Ajax na final. Também jogou no Benfica (Portugal) e pela seleção belga disputou 58 partidas. Na Copa do Mundo de 1994 recebeu o prêmio de melhor goleiro. 

Charmosa, Bruges é a principal cidade turística da Bélgica
 (Foto: Roberto Maia)

sexta-feira, 10 de março de 2017

O futebol está vivo. Obrigado Barcelona!

Por Roberto Maia


Até quarta-feira estava decidido a escrever a coluna desta semana falando da participação dos times brasileiros na Copa Libertadores da América. Porém, depois do jogo entre Barcelona e Paris Saint-Germain válido pela Liga dos Campeões da Europa eu mudei de ideia. O assunto não poderia ser outro.

Eu e muitos da minha geração ultimamente estamos achando que o futebol está ficando sem graça e até chato. O jogo alegre com dribles e muitos gols deu lugar à força, truculência e esquemas táticos que privilegiam a defesa. Já cansei de ouvir que empate no campo do adversário é um bom resultado. Ou, que, em casa, não importa se a vitória vem com um magro um a zero, mesmo jogando feio.

Jogadores medíocres, mas esforçados, têm a preferência dos treinadores. Zagueiros e volantes fortes e vigorosos são os escolhidos. Jogadores técnicos que cadenciam o jogo perderam espaço. Centroavante que não volta para “recompor” com rapidez não têm vez. Assim tem sido o jogo praticado aqui no Brasil e que em nada lembra o velho e bom futebol de décadas passadas.

Mas, ao assistir ao clássico europeu entre Barcelona e PSG, no Camp Nou, senti um fio de esperança. Como agora a moda é estudar futebol na Europa, copiar o jogo e as táticas utilizadas por lá, quem sabe as coisas possam mudar.

Pensando racionalmente, quem poderia imaginar que o time da Catalunha pudesse reverter o resultado do jogo disputado em Paris, quando foi derrotado por quatro a zero? E, pior, tendo que marcar cinco gols para conseguir a classificação e ainda tomar um gol no segundo tempo.


Somente por milagre pensei. Não, milagres acontecem em outras situações mais importantes, não em jogos de futebol. O que se viu foi apenas futebol jogado como em sua essência. Com alegria, garra, disposição e técnica. Sempre buscando o gol.

E foi um jogador brasileiro que contribuiu muito para o espetáculo futebolístico como há muito tempo não víamos: Neymar! Ajudado por outros dois sul-americanos, Messi e Suarez - que ainda praticam o velho futebol - construíram o placar histórico de 6 a 1 sobre o time francês (um dos melhores do mundo na atualidade) e alcançaram a classificação improvável. O gol marcado em cobrança de falta foi antológico. Tomara no Brasil nossos garotos se inspirem e comecem a treinar batidas de falta. Saudades de Zico, Neto, Marcelinho Carioca e muitos outros exímios nesse fundamento. 


Mas não foi fácil, claro. Aos 40 minutos do segundo tempo o placar era de 3 a 1. Quem seria louco em apostar em mais três gols nos minutos finais? Mas a volúpia do time catalão e a postura defensiva e com erros individuais dos franceses determinaram a classificação do Barça às quartas de final da Liga dos Campeões.

O improvável aconteceu. Nunca na história dos campeonatos europeus um resultado de 4 a 0 havia sido revertido por um clube em uma disputa continental. O Barcelona venceu, mas o maior ganhador foi o futebol.


O mundo assistiu um espetáculo do futebol bem jogado que, no passado não muito distante, era comum em qualquer jogo nos campos brasileiros, argentinos e uruguaios. Hoje, nossos melhores jogadores são importados precocemente para brilharem na Europa. E, se não vingarem, voltam para cá e ficam engando e sonhando com convites para jogar na China ou no mundo árabe. Essa é a nossa realidade. Até quando?

Fotos: fcbarcelona.com