sexta-feira, 13 de janeiro de 2023

Camisa da Seleção Brasileira corre risco de estigmatização

POR ROBERTO MAIA

A tradicional camisa amarela da Seleção Brasileira foi adotada em 1954, na Copa do Mundo disputada na Suíça. (Foto: CBF/divulgação)

Após os atos terroristas verificados no último domingo em Brasília, quando milhares de pessoas invadiram, depredaram e saquearam os prédios do Supremo Tribunal Federal, Congresso Nacional e Palácio do Planalto, diversas entidades saíram em defesa da democracia e das instituições. Nada mais justo. Afinal a constituição brasileira precisa ser respeitada e cumprida e o estado de direito preservado.

Mas não quero entrar aqui no aspecto político e ideológico da questão. Entendo que não seja o espaço adequado para isso. Quero falar sobre o risco da camisa da Seleção Brasileira – e também a bandeira do Brasil – ficar estigmatizada.

Nos últimos quatro anos os apoiadores do ex-presidente Jair Bolsonaro adotaram a camisa canarinho e a bandeira nacional como símbolos de patriotismo. O que sempre significaram. A bandeira desde a proclamação da República em 1889 e a camisa amarela a partir da Copa do Mundo de 1954, que foi disputada na Suíça.

Porém, a Copa disputada no Catar no final de 2022 mostrou que grande parcela dos brasileiros teve receio de usar a consagrada camisa amarela da Seleção com medo de serem confundidos em termos de ideologia política. Muitos optaram pela versão azul da camisa número 2, enquanto outra parte preferiu vestir camisas dos times pelos quais torcem.

Camisa da Seleção era maioria entre os manifestantes que invadiram o Palácio do Planalto, o Congresso Nacional e o Supremo Tribunal Federal. (Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil)

A Nike, fornecedora das camisas da Seleção, e a Confederação Brasileira de Futebol (CBF) perceberam isso e tentaram algumas ações antes e durante a Copa para mostrar que a vestimenta é de todos os brasileiros. Acho que não tiveram o sucesso que imaginaram.

Agora, após os atos golpistas e antidemocráticos em Brasília, os dois símbolos nacionais correm risco real de estigmatização. Tanto que a CBF rapidamente emitiu um comunicado repudiando os ataques à Praça dos Três Poderes. A entidade se classificou como "apartidária e democrática", bem como solicitou que a camisa da Seleção Brasileira seja utilizada "para unir e não para separar os brasileiros".

"A camisa da Seleção Brasileira é um símbolo da alegria do nosso povo. É para torcer, vibrar e amar o país. A CBF é uma entidade apartidária e democrática. Estimulamos que a camisa seja usada para unir e não para separar os brasileiros. A CBF repudia veementemente que a nossa camisa seja usada em atos antidemocráticos e de vandalismo", diz a nota divulgada na manhã de segunda-feira (dia 9).

O futuro da tradicional camisa amarela da Seleção Brasileira pentacampeã mundial está em risco. A CBF e a Nike sabem disso e estão bastante preocupadas. Afinal, depois do que aconteceu no Distrito Federal será muito difícil despolitizar o manto e traze-lo de volta para todos os brasileiros. 

ROBERTO MAIA É JORNALISTA, CRONISTA ESPORTIVO E EDITOR DO PORTAL TRAVELPEDIA.COM.BR

quarta-feira, 4 de janeiro de 2023

O DIA EM QUE DEI DE CARA COM O REI PELÉ NO MARACANÃ

 POR ROBERTO MAIA

À direita na foto, eu tive a oportunidade de participar de algumas entrevistas com o Rei Pelé, o mais genial jogador de todos os tempos. (Reprodução TV Globo)

O assunto dessa semana não poderia ser outro senão a morte do cidadão brasileiro Edson Arantes do Nascimento, aos 82 anos de idade. Mas, o Rei Pelé, um verdadeiro mito e cidadão do mundo, segue vivo pois é imortal.

Ao longo de minha carreira como jornalista tive a oportunidade de participar de algumas entrevistas com Pelé. Nenhuma enquanto ele destruía adversários em campo. Todas depois que ele deixou de jogar. Uma delas quando ele foi ministro dos Esportes na gestão do presidente Fernando Henrique Cardoso.

Teve até uma entrevista exclusiva conseguida de maneira inusitada. No dia 3 de setembro de 1989 fui ao Maracanã para cobrir o jogo entre Brasil e Chile, válido pelas eliminatórias sul-americanas para a Copa do Mundo de 1990, na Itália. Eu era um jovem repórter em início de carreira e à época trabalhava na rádio Iguatemi de Osasco.

O jogo ganhou repercussão mundial por causa de um incidente. A Seleção Brasileira vencia pelo placar de 1 a 0, com gol de Careca. O resultado dava a classificação ao Brasil e eliminava o Chile. Até que, aos 24 minutos do segundo tempo, um rojão foi disparado ao campo e caiu próximo ao goleiro chileno Roberto Rojas, que caiu no chão, fingindo estar ferido.

O jogo não terminou. Se o Brasil fosse punido o Chile herdaria a vaga para a Copa. A polícia identificou a torcedora que teria atirado o rojão. Mas, no dia seguinte, várias fotos e imagens de televisão revelaram que o foguete não atingiu Rojas. O artefato explodiu pouco mais de um metro de distância do goleiro.

O jogo ficou marcado para história como um dos acontecimentos mais vergonhosos do futebol mundial. O Chile foi banido das eliminatórias para a Copa do Mundo de 1994 e Rojas teve a carreira encerrada ao ser banido para sempre do esporte. A fama repentina da torcedora de 24 anos a levou a ser capa da revista Playboy e ela ficou conhecida como a “Fogueteira do Maracanã”.

Contei tudo isso para voltar ao encontro com Pelé onde consegui uma entrevista exclusiva. Após o termino do jogo sai da tribuna de imprensa para ir à sala onde seria realizada a coletiva. Caminhei por um corredor à procura da escada que me levaria ao térreo do estádio. Não encontrei a saída e ao abrir uma porta qualquer dei de cara com Pelé. Foi como se eu estivesse frente a frente com uma entidade superior, um ser mitológico que paira acima dos humanos. Sim, tomei um baita susto!

Sozinho, Pelé também estava perdido à procura das escadas. Percebi nesse momento que ele também era humano como eu. Lembro que ele perguntou se eu sabia onde era a saída. Mas não me lembro se consegui responder alguma coisa. Mas logo o meu instinto de jornalista me trouxe de volta à Terra. E, sacando meu gravador pedi para ele dizer algumas palavras sobre o incidente que marcou o jogo.

O Rei gentilmente se dispôs e falou enquanto caminhávamos em busca da escada. Achamos a saída e o maior atleta do século 20, autor de 1.283 gols e único jogador a ganhar três Copas do Mundo se despediu de mim com um sorriso e desapareceu em meio à multidão de súditos que logo o reconheceram. Eu então respirei fundo e fui para a entrevista coletiva sem me dar conta que tinha um tesouro comigo.

Infelizmente não tenho uma foto desse dia histórico. Até porque os celulares com câmeras ainda eram coisa de ficção científica. Tão pouco tenho a gravação da entrevista exclusiva com o Rei. Mas, tudo bem, porque hoje posso dizer e deixar registrado aqui que um dia eu tive o privilégio de estar junto e falar com o maior e mais genial jogador de futebol de todos os tempos.

Que o Edson Arantes do Nascimento descanse em paz, porque o Pelé é eterno!

ROBERTO MAIA É JORNALISTA, CRONISTA ESPORTIVO E EDITOR DO PORTAL TRAVELPEDIA.COM.BR