POR
ROBERTO MAIA
Jorge Sampaoli devolveu ao
time as características ofensivas que consagraram o Santos (Fotos: Ivan Storti/Santos FC) |
Tirando o Flamengo que está muito acima dos demais clubes que disputam a Série A do Brasileirão, o Santos é a melhor surpresa da competição. O Alvinegro da Vila entregou muito mais do que se esperava dele. Ainda mais quando comparamos com os adversários do Estado – Palmeiras, São Paulo e Corinthians – que decepcionaram os seus torcedores. E, apesar de não conquistar títulos em 2019, o bom desempenho do time no Campeonato Brasileiro superou expectativas.
Ninguém poderia supor que o time que terminou a
temporada de 2018 na décima colocação e chegou a frequentar a zona de
rebaixamento pudesse ir tão bem esse ano. Ainda mais perdendo jogadores
importantes como Gabigol, Dodô e Bruno Henrique entre outros.
Contra todos os prognósticos, o presidente José
Carlos Peres investiu pesado em jogadores e surpreendeu ao contratar o
treinador argentino Jorge Sampaoli. Gastou mais de R$ 75 milhões em 14
contratações, sendo o maior investimento em Cueva, que custou R$ 29 milhões.
Apesar disso, o peruano não se firmou com a camisa santista, ficando até fora
do banco de reservas em alguns jogos.
Entre as contratações acertadas estão o goleiro
Everson, os laterais Felipe Jonatan e Jorge, o zagueiro Felipe Aguilar e os atacantes
Marinho e Soteldo, que se encaixaram muito bem no esquema de Sampaoli.
Tudo começou a ir bem dentro de campo. Antes do
Flamengo decolar no segundo semestre nas mãos do português Jorge Jesus, o
Santos era a surpresa boa do Campeonato Brasileiro. Diferentemente do jogo
extremamente defensivo com que os demais times praticavam, o conjunto santista
comandado por Sampaoli buscava o ataque o tempo todo e muita rapidez na
recomposição.
Tamanho arrojo culminou em algumas derrotas por
goleadas ao longo do ano como os 5 a 1 para o Ituano e os 4 a 0 contra o
Botafogo de Ribeirão Preto e também pelo Palmeiras. Mas elas serviram para
ajustes no esquema tático.
Porém, fora das quatro linhas a relação entre o
presidente santista e o treinador se deteriorava. Ambos passaram a travar uma
guerra fria com declarações fortes através da imprensa. A demora na contratação
de reforços e as condições financeiras do clube deixavam Sampaoli bastante
irritado. Apesar disso, o time chegou inclusive a liderar o Brasileirão em
algumas rodadas.
A comunicação entre ambos ficou impossível. Em uma
tentativa de melhorar a relação profissional, em junho, o Santos contratou Paulo
Autuori, ex-treinador que passaria a dirigente com a missão de ser o
interlocutor entre o técnico e a diretoria. Com muita experiência no futebol,
Autuori desempenhou a função de maneira satisfatória até a semana passada. Ele
pediu demissão e reclamou publicamente da interferência do presidente, que
pediu a escalação de Cueva, que está afastado por problemas técnicos e
disciplinares.
Sem o elo de ligação a permanência de Sampaoli em
2020 é incerta, apesar de ainda ter mais uma ano de contrato pela frente.
Dentro do clube poucos acreditam que ele continue. Ainda mais agora que o Racing,
da Argentina, demonstrou interesse no treinador para substituir Eduardo Coudet,
que comandará o Internacional no próximo ano.
Caso a saída de Sampaoli se confirme será ruim
para o clube e também para o futebol brasileiro. Sua permanência poderia gerar
frutos na temporada que vem. Com algumas contratações pontuais e com os atuais
jogadores acostumados aos métodos ofensivos colocados em prática esse ano, quem
sabe o Santos não seria capaz de surpreender ainda mais e conquistar
títulos.
ROBERTO
MAIA É JORNALISTA, CRONISTA ESPORTIVO, EDITOR DA REVISTA QUAL VIAGEM E DO
PORTAL TRAVELPEDIA