quinta-feira, 19 de abril de 2018

Corinthians e Roma protagonizam viradas épicas


Corinthians campeão do Paulistão 2018 (Foto: Rodrigo Gazzanel/Ag.Corinthians)

POR ROBERTO MAIA

final do Paulistão entre Palmeiras e Corinthians foi um teste para cardíacos. O gol de Rodriguinho com menos de dois minutos de jogo emudeceu os torcedores do Verdão que se prepararam para um dia de festa. Festa do campeão. Afinal, o time comandado por Roger Machado deixou tudo muito bem encaminhado uma semana antes em plena Arena Corinthians. Bastava um empate em sua casa que tinha mais de 41 mil torcedores para empurrar.

Mas o improvável aconteceu. O time corinthiano foi eficiente e frio, ou melhor, gelado. Deixou o Palmeiras com a posse de bola e assumiu postura unicamente defensiva. Um perigo, mas um risco calculado por Fábio Carille e que deu certo. Por mais que tentassem, os palmeirenses não conseguiam furar as rígidas linhas defensivas. Os ponteiros do relógio se arrastavam para os alvinegros e voavam para os verdes.

Os zagueiros Balbuena e Henrique com a taça (Foto: Rodrigo Gazzanel/Ag.Corinthians)

Os nervos que estavam à flor da pele explodiram quando o árbitro Marcelo Aparecido Ribeiro de Souza marcou pênalti de Ralf em Dudu. Marcou porque estava mal posicionado, pois o defensor corinthiano atinge apenas a bola limpamente. Se tivesse apitado somente o escanteio ninguém reclamaria. Acho que nem o Dudu, apesar que ele reclama sempre de tudo. A confusão estava formada. O apitador demorou 8 minutos para assumir que errou, após conversar com o seu auxiliar Adriano de Assis Miranda. Deu argumento para os palmeirenses reclamarem de interferência externa. Que pode até ter acontecido, mas jamais saberemos.

O goleiro Cassio defendeu dois pênaltis (Foto: Daniel Augusto Jr./Ag.Corinthians)

O fato é que o árbitro não estava preparado para apitar um jogo de tamanha grandeza. Mas, apesar de totalmente atordoado e as imagens mostram isso, corrigiu um erro que poderia ter sido histórico e fatal para a sua carreira. Mas como o dia era do Corinthians, quem garante que o gigante Cássio também não pegaria o pênalti. 

A rivalidade entre os dois times é tão grande que seus torcedores costumam dizer que vale ganhar até com gol roubado aos 45 do segundo tempo. Se o Verdão tivesse sido campeão dessa maneira o resultado não faria jus à sua grandeza. Em contrapartida, o Timão faturar o 29º Campeonato Paulista da sua história – um bicampeonato - dentro da casa do seu maior adversário ficará eternizado para sempre.

O paraguaio Romero tirou onda e fez selfie com os colegas campeões
(Foto: Daniel Augusto Jr./Ag.Corinthians)

Roma passou por cima do invicto Barcelona

Dois dias depois, foi a vez da Roma atropelar o invicto Barcelona de Messi e companhia e protagonizar uma virada épica. Após perder por 4 a 1 na Espanha, precisava de uma virada histórica e vencer por 3 a 0 em seus domínios para passar às semifinais da Champions League. E, quem diria, conseguiu graças a Dzeko, De Rossi e Manolas, os heróis do jogo.

E o que esses dois resultados improváveis significaram? Eles mostram que no futebol nem sempre um time recheado de craques e com retrospecto melhor consegue levar a melhor sobre oponentes guerreiros, que colocam a raça e a disciplina tática acima de tudo.

O futebol mudou muito, mas vitórias como as do Corinthians e Roma mostram que o esporte sempre será imprevisível e emocionante.

terça-feira, 27 de fevereiro de 2018

Com direito a muito sofrimento, Grêmio conquista a Recopa


O grito estava engasgado na garganta dos tricolores ao longo de sofríveis 120 minutos de 
bola rolando mais alguns – intermináveis –  das cobranças dos pênaltis (Foto: grêmio.net)


POR ROBERTO MAIA

Enquanto o Paulistão não engrena e entra na fase que realmente empolgará os torcedores, o Brasil já tem o seu primeiro campeão de 2018. O Grêmio conquistou a Recopa Sul-americana, no dia 21 de fevereiro, em um jogo que deixou seus torcedores à beira de um ataque cardíaco. O adversário não poderia ser pior, um time argentino, catimbeiro, que não desiste nunca, o Independiente.

Apesar de jogar cerca de 50 minutos com um jogador a mais em campo, o Tricolor Gaúcho não conseguiu marcar em sua arena lotada. Veio a prorrogação e depois a disputa de pênaltis. Tudo muito igual. Pênaltis bem batidos de lado a lado até que no quinto e derradeiro brilhou a estrela do ótimo goleiro Marcelo Grohe, que fez a defesa e lavou a alma dos gremistas. Bom para ele que o treinador da Seleção Brasileira, Tite estava lá assistindo.

A obrigação de atacar e vencer o jogo era do Grêmio, que jogava em casa. E atacou muito, mas não chegava às redes. Já o Independiente aproveitava os contra-ataques. Também tiveram chances de abrir o placar, mas, tal como os gremistas, pecavam na hora de concluir. Importante frisar que o goleiro argentino Campaña fez verdadeiros milagres no jogo de ontem.

Os hermanos, como sempre, não economizaram na hora de fazer faltas violentas para parar o ataque gremista. Distribuíram pancadas até que, Amorebieta afastou uma bola na área e deixou as travas da sua chuteira no peito de Luan. Com a ajuda do vídeo, o árbitro deu cartão vermelho para o zagueiro.

O que parecia ser uma enorme vantagem não se refletiu em campo. O segundo tempo foi ainda mais tenso. Gremistas presentes na arena e espalhados pelo país certamente roeram todas as unhas e o gol redentor não aconteceu.

Assistindo ao jogo lembrei de um amigo gaúcho, o jornalista Airton Gontow, um gremista ferrenho que deveria estar à beira do enfarto. Estava sentindo dó dele, que mora em São Paulo, tão distante da sua terra querida. Aí lembrei que ele já passou por momento ainda mais tensos com o seu Grêmio e já está vacinado.


O jovem Anderson entrou para a história gremista 
ao marcar um gol quase impossível no jogo que 
ficou marcado como a “Batalha dos Aflitos” 
(Foto: Grêmio/divulgação)

Batalha dos Aflitos - Foi inevitável lembrar da histórica “Batalha dos Aflitos”, nome dado ao jogo contra o Náutico, em Recife, no dia 26 de novembro de 2005. Última rodada do Brasileirão da Série B daquele ano e o Grêmio precisando apenas empatar sem sofrer gol para voltar à principal divisão do futebol brasileiro. Tal como ontem, o gol também não acontecia. O enredo daquele jogo teve requintes de crueldade com os torcedores gaúchos. No primeiro tempo houve um pênalti a favor do Náutico, que não foi convertido para a alegria dos gremistas e do ainda pouco conhecido treinador Mano Menezes.

Para piorar tudo, no segundo tempo o Tricolor teve um jogador expulso e mais uma penalidade marcada para o Náutico. A reclamação foi grande e outros três gremistas receberam o cartão vermelho. O desastre parecia inevitável. Com sete em campo, nenhum outro poderia ser expulso para que o jogo não terminasse naquele momento. A agonia parecia não ter fim. Os corações dos tricolores dispararam no momento em que o jogador do Náutico correu para a bola. Segundos intermináveis. Até que o jovem goleiro Galatto, de apenas 22 anos, fez a defesa mais importante e histórica da sua vida. Defesa que lhe rendeu o apelido de “Homem de Gelo”.

Airton Gontow, diretor do site Coroa Metade,
comemorou muito a conquista da Recopa 2018
Mas como segurar a bola e garantir aquele empate com apenas sete em campo? Impossível? Não para o Imortal time centenário de Porto Alegre. O milagre da raça gremista se materializou aos 63 minutos de jogo do segundo tempo. Um outro jovem, Anderson, camisa 17, como que não acreditando no impossível decidiu invadir a área adversária e com um sutil toque marcou o gol improvável. Gol que garantiu o título e o acesso. Gol que colocou um jogo na história do time gaúcho e na memória dos torcedores. 

E se o meu amigo Airton não morreu naquele dia não haveria de ser ontem contra o Independiente. Mandei uma mensagem para ele dando os parabéns e fui dormir. Ele teve ter varado a noite comemorando o bicampeonato. Merecidamente!


domingo, 18 de fevereiro de 2018

Andrés Sanchez volta à presidência do Corinthians com muitos problemas para resolver

Andrés Sanchez assume a presidência pela segunda vez
com a missão de equacionar a dívida da Arena Corinthians

POR ROBERTO MAIA

Passada a ressaca do Carnaval voltamos novamente nossas atenções ao futebol paulista. Na semana anterior à festa de Momo os associados do Corinthians, em uma das eleições mais disputadas da história do clube, escolheram um novo presidente. Novo é maneira de dizer, porque Andrés Sanchez volta ao comando dos destinos do Timão pela segunda vez. Agora para um mandato que vai até novembro de 2020.

Deputado federal pelo PT, Andrés obteve 1.235 votos (33,9%) no pleito realizado no Parque São Jorge, superando Paulo Garcia (832 votos), Antônio Roque Citadini (803 votos), Felipe Ezabella (461 votos) e Romeu Tuma Júnior (278 votos). Houve, ainda, 18 votos nulos e 13 em branco. Compareceram às urnas 3.642 associados de um total superior a 10 mil em condições de voto.

A volta de Andrés à presidência marca mais uma vitória do grupo Renovação & Transparência, que completará 13 anos no comando do Corinthians. Ele comandou de 2007 a 2012, sendo seguido por Mário Gobbi e Roberto de Andrade. Durante o período em que ficou fora Andrés nunca esteve ausente de fato. São muitos os comentários no clube e na imprensa que ele sempre esteve por trás dos principais assuntos do clube, principalmente no futebol.

Das 24 chapas concorrentes, foram eleitas as oito mais votadas, além de duas suplentes
A votação também marcou uma nova forma na eleição dos conselheiros. Com o fim do chamado “chapão”, quando 200 nomes eram escolhidos pelo grupo do candidato à presidência, desta vez 24 chapinhas de 25 integrantes cada, concorreram às 200 vagas para conselheiros trienais. A grande quantidade de candidatos se explica pela liberdade de poder colocar candidaturas sem depender do humor e da boa vontade dos caciques que comandam a política do clube. Pode até não ser o formato ideal, porém é muito mais democrático que o anterior.

Foram eleitas as oito chapinhas mais votadas, além de duas suplentes. As vencedoras foram as seguintes: Preto no Branco (412 votos), Fiéis Escudeiros (274 votos), Renovação e Transparência (232 votos), Inteligência Corinthiana (184 votos), Mosqueteiros (179 votos), Tradição Corinthiana (169 votos), Corinthians Supremo (162 votos) e São Jorge (161 votos). Resgata Corinthians e Aqui é Corinthians ficam na suplência.

Apesar do grande número de candidatos pedindo votos, o dia transcorreu com muita tranquilidade. Infelizmente, pouco após o anúncio da vitória de Andrés, um grupo de torcedores – a maioria não sócios do clube – insatisfeitos com a sua volta ao comando, causou tumulto e cenas de violência. Mas, felizmente, nada mais grave aconteceu.

Ralf atuou em 350 jogos e conquistou seis títulos pelo Corinthians:
Brasileirão (2011 e 2015), Libertadores (2012), Mundial de Clubes (2012),
Paulistão (2013) Recopa Sul-Americana (2013) (Foto: Daniel Augusto Jr./Ag.Corinthians)


O principal problema de Andrés será conseguir recursos para poder fazer frente à dívida da arena em Itaquera. Para ajudá-lo nessa difícil missão ele trouxe de volta Luís Paulo Rosenberg para novamente assumir a diretoria de Marketing. Segundo Andrés, a arena não é um problema. “A arena é solução. O Corinthians tem seus problemas históricos economicamente, mas nunca deixou de pagar. Rapidamente vamos acertar tudo”, garantiu.

No futebol, Andrés ainda não trouxe nenhum nome de peso e tampouco o desejado camisa 9 que a Fiel tanto espera. Mas resgatou o volante Ralf – outro velho conhecido – que estava sem clube após o termino do seu contrato com o Beijing Guoan da China; contratou o jovem atacante Matheus de 19 anos junto ao América-RN; e adquiriu 50% dos direitos econômicos do zagueiro Marllon, que pertencia ao Cianorte e atuou pela Ponte Preta no Brasileirão de 2017.

Corinthians comprou 50% dos direitos econômicos do zagueiro Marllon, 
que atuou pela Ponte Preta no ano passado (Foto: Fabio Leoni/PontePress)

terça-feira, 13 de fevereiro de 2018

Abismo entre Brasil e Europa aumenta cada vez mais


Philippe Coutinho trocou o Liverpool pelo Barça por
160 milhões de euros (Foto: Victor Salgado/FCB/Divulgação)

POR ROBERTO MAIA

Incrível como a cada temporada a distância econômica aumenta entre os times da Europa e os da América do Sul. Atualmente, não é mais apenas um oceano que separa os dois continentes. Infelizmente para nós, também há um imenso abismo financeiro. E, pior, cresce cada vez mais a diferença técnica entre os times europeus e sul-americanos. No Brasil, especificamente, jogadores de todas as idades deixam o país por valores insignificantes quando comparados aos praticados pelos gigantes europeus.

Há alguns meses, o mundo ficou boquiaberto quando Neymar Jr. trocou o Barcelona pelo Paris Saint-Germain por impensáveis 222 milhões de euros – cerca de R$ 820 milhões. A transação ganhou as manchetes internacionais por ser a maior e mais astronômica negociação do futebol mundial. Ao trocar Barcelona por Paris, Neymar também dobrou o seu salário e passou a receber cerca de 30 milhões de euros anuais. Importante lembrar que o craque saiu do Santos por 17 milhões de euros, aproximadamente R$ 49 milhões à época.

Com o cofre cheio o time catalão saiu às compras e ultrapassou pela primeira vez na sua história a barreira dos 300 milhões de euros em contratações na atual temporada. Entre as mais recentes e caras contrações do Barça estão o jovem talento francês Ousmane Dembélé (145 milhões de euros) e, agora, o brasileiro Philippe Coutinho.

Coutinho deixou o Liverpool por 160 milhões de euros, sendo 130 milhões agora e outros 30 milhões em bônus por desempenho do jogador. Podemos dizer que foi um “precinho de ocasião” pois, há alguns meses, os dirigentes do time inglês estavam pedindo 200 milhões de euros (cerca de R$ 745 milhões, na cotação da época) para liberarem o brasileiro. O negócio não prosperou e só foi concretizado agora após redução de 40 milhões no valor.

Outra transação que mostra a imensa defasagem em relação à Europa foi a liberação do zagueiro Marquinhos – titular da seleção brasileira. Revelado pelo Corinthians, foi vendido para a Roma, em 2012, por 3 milhões de euros. Um ano depois, o PSG contratou-o por 31 milhões de euros. E, em 2016, quase foi para o Barça e só não trocou de cidade porque os dirigentes franceses não aceitaram os 60 milhões de euros oferecidos pelos catalães.

Se algumas ações não forem tomadas com urgência o quadro só tenderá a piorar. Além de pagarem quantias irrisórias por nossas melhores revelações, também garimpam em escolinhas e levam meninos por volta dos 13 anos como se estivessem comprando ações que poderão valorizar no futuro.

E não são mais apenas os grandes clubes europeus que fazem a festa no futebol brasileiros. Times intermediários também já perceberam que podem lucrar muito comprando barato e revendendo depois. É o caso, por exemplo, de Guilherme Arana, que com apenas 20 anos e uma única boa temporada no Corinthians foi para o Sevilha por 11 milhões de euros. Óbvio que o clube andaluz pretende ganhar muito mais em uma futura transação com os grandes da Europa.

Essa e a triste realidade do nosso futebol. Até quando?