quarta-feira, 3 de maio de 2023

Luxemburgo volta ao Corinthians para o seu maior desafio

 POR ROBERTO MAIA

Vanderlei Luxemburgo volta ao Corinthians após 21 anos e tem a missão de fazer o time voltar a ser competitivo. (Foto: Rodrigo Coca/Agência Corinthians)

A crise do Corinthians parece não ter fim. Resultados ruim derrubaram Fernando Lázaro. E as redes sociais pressionaram Cuca a pedir para sair após apenas sete dias no comando do time. Um elenco com vários jogadores acima dos 30 anos, que embora com reconhecida capacidade técnica não conseguem corresponder em campo. E, fora dos gramados, a gestão de Duílio Monteiro Alves, que já vem sendo contestada por movimentos de oposição dentro do Parque São Jorge agora também é alvo dos torcedores que já se manifestam pedindo a sua saída.

E, no olho desse furacão corinthiano, o experiente treinador Vanderlei Luxemburgo chega para tentar consertar as deficiências mostradas em campo nos últimos anos. Ele não era o plano A e nem o B do presidente corinthianso. Embora não pareça que o atabalhoado departamento de futebol do Corinthians tenha algum plano elaborado.

Tite tinha a preferência mas preferiu continuar desfrutando as férias depois de deixar o comando da Seleção Brasileira. Mano Menezes também foi tentado, mas como tem contrato até dezembro com o Internacional decidiu continuar em Porto Alegre. Roger Machado foi sondado e descartado após pressões internas e das redes sociais.

Nesse contexto, o velho professor – ou “pofexô” como é chamado por torcedores – Luxemburgo retorna ao Corinthians para a sua terceira passagem. Ele tem a simpatia da Fiel Torcida porque conquistou o Brasileirão de 1998, quando montou um dos times mais memoráveis da história do clube, com jogadores como Gamarra, Marcelinho Carioca, Rincón, Vampeta, Edilson e Ricardinho. Elenco de craques que ele deixou para Osvaldo de Oliveira, o seu auxiliar à época, levantar o bicampeonato brasileiro em 1999 e o Mundial Interclubes de 2000. O sucesso no comando do Timão o levou à Seleção Brasileira, onde ganhou a Copa América.

Demitido da Seleção após a eliminação na Olimpíada de Sidney em 2000 Luxemburgo voltou ao Corinthians que vivia momentos parecidos com os de hoje. O Timão terminou a Copa João Havelange na penúltima colocação – sorte do clube que o regulamento não previa rebaixamento. Luxa conseguiu recuperar a autoestima do elenco e conquistou o Campeonato Paulista de 2001. Aliás, nos jogos finais do Paulistão daquele ano o treinador inovou ao se comunicar através de pontos eletrônicos com Ricardinho e com o goleiro Maurício. A tática acabou descoberta e acabou proibida pela FIFA.

Luxemburgo tem nova oportunidade de mostrar que é um dos mais vitoriosos treinadores brasileiros de todos os tempos. (Foto: Rodrigo Coca/Agência Corinthians)

Por essa e outras Luxemburgo é um dos mais vitoriosos treinadores do futebol brasileiro. Entre os títulos mais relevantes estão a Copa América com a Seleção Brasileira, Brasileirão Série A cinco vezes, Copa do Brasil, Torneio Rio-São Paulo duas vezes, além de 14 estaduais (SP-9, MG-2, ES-1, PE-1 e RJ-1).

Tamanho sucesso no futebol brasileiro levou Luxemburgo para o Real Madrid em 2004. O gigante espanhol tinha um elenco de craques apelidado de Galácticos com Ronaldo, Roberto Carlos, Figo, Zidane, Beckham, Sergio Ramos, Casillas, Raúl, entre outros. Luxa entrou em conflito com alguns medalhões do time e sua passagem por Madri durou apenas uma temporada.

Fora dos campos Luxemburgo sempre viveu uma “vida louca”. Além do conhecido caso de assédio sexual contra uma manicure em um hotel onde o Palmeiras estava concentrado, também esteve envolvido e investigado por suspeita de sonegação fiscal e suposto esquema na compra e venda de jogadores. Foi inclusive convocado para depor diante de uma CPI do futebol que investigava sua ligação com uma empresa acusada de lavagem de dinheiro. Além disso, foi pego também por falsidade ideológica e teve que alterar as letras W e Y de seu nome por V e I.

Com 71 anos, Luxemburgo ao assumir o Corinthians, após ficar um ano desempregado, tem talvez a última grande oportunidade de sua carreira para mostrar que continua atualizado e é um dos maiores treinadores do futebol brasileiro de todos os tempos. O desafio é grande, mas o “pofexô” sempre tem uma carta na manga.

ROBERTO MAIA É JORNALISTA, CRONISTA ESPORTIVO E EDITOR DO PORTAL TRAVELPEDIA.COM.BR

terça-feira, 25 de abril de 2023

Cuca no Corinthians causa polêmica e agita redes sociais

POR ROBERTO MAIA

Cuca se declara inocente no caso ocorrido na Suíça; foi condenado há 15 meses de prisão, mas nunca cumpriu a pena. (Foto: Rodrigo Coca/Agência Corinthians)

Começo a coluna desta semana lembrando que na anterior comentei que Rogério Ceni e Fernando Lázaro poderiam perder os empregos. Dito e feito. Os treinadores não resistiram e foram demitidos dos cargos. Ceni volta ao mercado e Lázaro fica no Corinthians agora como auxiliar técnico do novo treinador Cuca.

E é sobre a contratação de Cuca que quero tratar esta semana. Sem dúvida um treinador conceituado no Brasil e com importantes conquistas: Libertadores (2013), Campeonato Brasileiro (2016 e 2021), Copa do Brasil (2021), Campeonato Mineiro (2011, 2012, 2013 e 2021) e Campeonato Carioca (2009).

Mas, apesar de ser considerado um treinador qualificado, a sua contratação pelo Corinthians trouxe à tona um caso que Cuca queria ver esquecido: a acusação de violência sexual a uma menina de 13 anos ocorrida na Suíça em 1987.

Cuca e outros três jogadores do Grêmio foram julgados à revelia e condenados pelo tribunal de Berna há 15 meses de prisão. Os jogadores que retornaram ao Brasil nunca cumpriram a pena. O crime prescreveu em 2012.

O treinador sempre negou participação no episódio e seguiu normalmente sua carreira como jogador de futebol. Depois do Grêmio ainda atuou por Real Valladolid, Internacional, Palmeiras, Santos, Portuguesa, Remo, Juventude e Chapecoense. Como treinador comandou o São Paulo, Palmeiras, Botafogo, Atlético-MG, Grêmio, Flamengo, Fluminense, Cruzeiro e Santos.

Outro jogador acusado pelo mesmo crime na Suíça, o zagueiro Henrique também seguiu adiante. Inclusive jogou no Corinthians entre 1992 e 1997, onde participou de 292 jogos, fez 17 gols e foi até capitão do time.

Não estou aqui para julgá-los nem para defendê-los. O que quero ressaltar é que é impossível apagar a história. Ela sempre volta. Para o azar de Cuca e de muitas outras pessoas atualmente, as redes sociais chegaram e resgatam atos comedidos no passado. Ela também julga e condena. Nela os crimes cometidos nunca prescrevem. E a condenação é implacável e perpétua.

A direção do Corinthians devia saber disso quando resolveu trazer Cuca para o Timão. Correu o risco e estabeleceu uma pressão que pode prejudicar o time em um momento decisivo da temporada.

Na sexta-feira passada, um grupo de torcedoras foi ao CT Joaquim Grava para protestar. As torcidas organizadas Camisa 12, Estopim e Pavilhão 9 publicaram notas de repúdio. Muros do Parque São Jorge foram pichados com frases como “Fora Cuca”.

No domingo passado, no minuto 87 do jogo contra o Goiás, as jogadoras do time feminino do Corinthians e até o treinador Arthur Elias criticaram em postagens nas medias sociais a escolha da diretoria. Para um clube que tem slogan como “Respeita as Minas”, contratar um profissional que tem condenação por estupro de vulnerável é muito incoerente.

Atualmente haveria repercussão em qualquer time que ousasse contratar Cuca, mas no Corinthians ganhou repercussão muito maior. Afinal, o clube tem mais de 50% dos seus torcedores do sexo feminino. E sempre se envolveu em importantes causas sociais. A própria arena Neo Química ostenta dizeres como “é o time do povo”.

O presidente Duílio não pensou no legado deixado pelo seu pai Adilson Monteiro Alves, líder do movimento Democracia Corinthiana – juntamente com o saudoso doutor Sócrates – que marcou época no futebol brasileiro por defender a democracia no futebol e no País.

O Corinthians é muito grande e não precisava de Cuca. Entendo que o treinador é competente e pode até vir a conquistar títulos no Timão. Mas estará registrado na história do clube para sempre e as redes sociais não irão esquecer e nem perdoar.

ROBERTO MAIA É JORNALISTA, CRONISTA ESPORTIVO E EDITOR DO PORTAL TRAVELPEDIA.COM.BR

terça-feira, 18 de abril de 2023

Rogério Ceni e Fernando Lázaro estão na corda bamba

POR ROBERTO MAIA

Como treinador do São Paulo, Rogério Ceni não conseguiu manter o mesmo prestígio que conquistou como jogador. (Foto: Rubens Chiri/saopaulofc.net)

Os treinadores Rogério Ceni do São Paulo e Fernando Lázaro do Corinthians têm sido alvos de muitas críticas por parte de torcedores, imprensa esportiva e de dirigentes e conselheiros dos seus respectivos clubes. Ou começam a mostrar serviço ou correm o risco de perder o emprego.

Escrevi essa coluna na terça-feira, dia 18, antes do jogo do São Paulo contra o Academia Puerto Cabello, das Venezuela, pela segunda rodada da fase de grupos da Copa Sul-Americana. Estou correndo um sério risco. Pois, em caso de um resultado negativo Ceni pode ser demitido. Esse é o pensamento da cúpula do futebol do Tricolor.

Ídolo da torcida como jogador que mais vezes vestiu a camisa são-paulina, Ceni não consegue manter o mesmo prestígio como treinador. Todos esperavam mais dele após as várias contratações de jogadores solicitadas. Mas o início de temporada com derrotas em jogos importantes e a eliminação do Paulistão para o Água Santa colocaram o técnico na linha de tiro.

No Morumbi já se discute abertamente nomes para ocupar o cargo de Rogério Ceni. Alguns falam em contratar um treinador estrangeiro e outros defendem um brasileiro que já conheça os jogadores do elenco. O nome de Dorival Júnior, atualmente livre no mercado, é um dos favoritos entre os são-paulinos.

Em sua segunda passagem como treinador do São Paulo, Ceni chegou ao clube em outubro de 2021. Não conquistou títulos, mas foi vice-campeão do Paulistão e da Copa Sul-Americana na temporada passada. Até o momento, comandou o Tricolor em 140 jogos, com 62 vitórias.

Fernando Lázaro prestigiado?

Cresce entre os corinthianos o entendimento é que Fernando Lázaro ainda não está preparado para comandar o Timão. (Foto: Rodrigo Coca/Agência Corinthians)

No arquirrival Corinthians a sucessão de Fernando Lázaro também é assunto dominante. Muito embora o presidente Duílio Monteiro Alves garanta que o treinador está prestigiado pela diretoria. Mas como bem sabemos, isso não costuma significar nada no mundo do futebol.

Torcedores e conselheiros do Corinthians já não confiam em Lázaro. É voz corrente que ele não está preparado para comandar um time como o do Timão. Ser filho do ídolo Zé Maria e ter atuado como um analista de desempenho acima da média estão lhe dando sobrevida no cargo.

Apesar de ter ficado mais de 30 dias sem jogos oficiais e somente treinando, o time não mostrou nenhuma evolução técnica. A derrota para o Remo, em Belém, pela Copa do Brasil, deixou evidentes as deficiências do time.

E tal como no Morumbi, o nome de Dorival Júnior é cogitado entre os corinthianos, que ainda sonham com a volta de Tite. Sorte do ex-treinador do Flamengo, que está valorizado e poderá surgir como técnico de São Paulo ou Corinthians no caso de demissão de Rogério Ceni ou Fernando Lázaro.

ROBERTO MAIA É JORNALISTA, CRONISTA ESPORTIVO E EDITOR DO PORTAL TRAVELPEDIA.COM.BR

terça-feira, 11 de abril de 2023

Palmeiras se impõe e conquistas o 25° Paulistão da sua história

POR ROBERTO MAIA

O Palmeiras agora tem 25 taças do Paulistão, apenas cinco a menos que o arquirrival Corinthians. (Foto: Cesar Greco/Palmeiras)

O Palmeiras distribuiu chocolate no domingo de Páscoa ao derrotar o Água Santa por 4 a 0 e conquistou o bicampeonato paulista. Após ser derrotado no primeiro jogo (2 a 1), o Verdão entrou em campo disposto a reverter o resultado ou “passar vergonha” como disse o treinador Abel Ferreira. Não passou, muito pelo contrário.

Com dois gols de Gabriel Menino, Endrick e Flaco López, o Palmeiras agora coleciona 25 taças do Paulistão. É o segundo maior vencedor, atrás apenas do arquirrival Corinthians que tem 30.

Em 2022, o Verdão também reverteu um placar desfavorável no primeiro jogo contra o São Paulo, que venceu no Morumbi por 3 a 1. No Allianz Parque derrotou o Tricolor por 4 a 0.

O fato é que o Palmeiras atualmente não tem adversários à altura na competição estadual. Está nadando de braçada. Com um elenco milionário que responde fielmente ao comando certeiro de Abel Ferreira, impõe seu jogo e passa por cima dos demais concorrentes.

O treinador português chaga assim ao seu oitavo título desde que chegou ao clube no final de 2020. Um feito notável sem dúvida. Abel igualou Vanderlei Luxemburgo em número de conquistas no Verdão e fica atrás somente de Oswaldo Brandão, que levantou 10 taças.

Em apenas dois anos e meio, Abel Ferreira venceu o Paulistão duas vezes (2022 e 2023), o bicampeonato da Libertadores (2020 e 2021), além de campeão brasileiro (2020), da Recopa Sul-Americana (2022), Copa do Brasil (2020) e Supercopa (2023). Importante lembrar que nos últimos 10 anos o Verdão conquistou 12 títulos.

Weverton é o goleiro com mais títulos conquistados na história do Palmeiras. (Foto: Cesar Greco/Palmeiras)

Mas no atual elenco palmeirense ninguém tem mais conquistas que o goleiro Weverton. Desde 2018, quando chegou ao Verdão, ele levantou 10 taças e se isolou como o goleiro com mais títulos na história do clube.

Mas o domingo de Páscoa não foi feliz apenas para a torcida do Palmeiras. No Rio de Janeiro, o Fluminense sagrou-se campeão revertendo um resultado negativo no primeiro jogo da decisão contra o Flamengo. O resultado (4 a 1) refletiu o que aconteceu no Maracanã. O Tricolor comandado por Fernando Diniz venceu o Mengão com autoridade.

Ao contrário de Abel Ferreira que coleciona conquistas, o seu compatriota Vitor Pereira acumula fracassos no Brasil. Em sua passagem pelo Corinthians não conquistou nenhum título. Deixou o Timão alegando problemas na saúde da sogra e assinou com Flamengo, um time vencedor nas mãos de Dorival Junior. E em apenas três meses conseguiu a façanha de perder quatro decisões: Supercopa do Brasil, Mundial de Clubes, Recopa Sul-Americana e Campeonato Carioca.

ROBERTO MAIA É JORNALISTA, CRONISTA ESPORTIVO E EDITOR DO PORTAL TRAVELPEDIA.COM.BR

sexta-feira, 10 de março de 2023

Paulistão 2023 chega à fase decisiva. Agora é mata-mata!

 POR ROBERTO MAIA  

O Corinthians fez a quinta melhor campanha do Paulistão e agora enfrenta o Ituano na sua arena. (Foto: Rodrigo Coca/Ag.Corinthians)

Após 12 rodadas foram definidos os times que farão os jogos das quartas de final do Campeonato Paulista deste ano. E podemos dizer que não houve grandes surpresas.  

A fase de grupos do Paulistão chegou no último domingo (5) e além dos times que farão os jogos de mata-mata no próximo final de semana, foram conhecidos os rebaixados.

Seguem na disputa o Palmeiras, São Bernardo, São Paulo, Água Santa, Corinthians, Bragantino, Botafogo e Ituano. Caíram para a Série A2 o São Bento de Sorocaba e a Ferroviária de Araraquara.

As campanhas do São Bernardo e do Água Santa podem ser consideradas surpreendentes. Porém, por causa do regulamento, o time de São Bernardo terá que enfrentar o Palmeiras, o primeiro colocado do seu grupo. Uma pena, já que um dos dois melhores times do torneiro será eliminado em um jogo único.

O Palmeiras de Endrick terminou a primeira do Paulistão como líder e único invicto da competição. (Foto: Cesar Greco/Palmeiras)

A Portuguesa que retornou à Série A1 este ano escapou da degola por um detalhe: um saldo negativo com um gol de diferença. A Lusa terminou o Paulistão com saldo de -8 (10 gols marcados e 18 sofridos), enquanto o São Bento ficou com -9 (5 gols marcados e 14 sofridos).

Já o Santos segue decepcionando seus torcedores e mais uma vez fica de fora da fase eliminatória do campeonato.

A Federação Paulista de Futebol (FPF) já definiu as datas e horários das quartas de final do Paulistão. A rodada terá início no sábado (11), com o jogo entre Palmeiras e São Bernardo, as 19h, no Allianz Parque. No domingo (12), serão realizados dois jogos: Corinthians e Ituano, às 16h, na Neo Química Arena; e Bragantino e Botafogo, às 19h30, no Nabi Abi Chedid, em Bragança. E, na segunda-feira (13), São Paulo e Água Santa se enfrentarão às 20h, no Allianz Parque.

Lembrando que o Tricolor não jogará no Morumbi porque receberá uma série de seis shows da banda britânica de pop-rock Coldplay. O estádio ficará interditado para jogos até 18 de março.

ROBERTO MAIA É JORNALISTA, CRONISTA ESPORTIVO E EDITOR DO PORTAL TRAVELPEDIA.COM.BR

sexta-feira, 13 de janeiro de 2023

Camisa da Seleção Brasileira corre risco de estigmatização

POR ROBERTO MAIA

A tradicional camisa amarela da Seleção Brasileira foi adotada em 1954, na Copa do Mundo disputada na Suíça. (Foto: CBF/divulgação)

Após os atos terroristas verificados no último domingo em Brasília, quando milhares de pessoas invadiram, depredaram e saquearam os prédios do Supremo Tribunal Federal, Congresso Nacional e Palácio do Planalto, diversas entidades saíram em defesa da democracia e das instituições. Nada mais justo. Afinal a constituição brasileira precisa ser respeitada e cumprida e o estado de direito preservado.

Mas não quero entrar aqui no aspecto político e ideológico da questão. Entendo que não seja o espaço adequado para isso. Quero falar sobre o risco da camisa da Seleção Brasileira – e também a bandeira do Brasil – ficar estigmatizada.

Nos últimos quatro anos os apoiadores do ex-presidente Jair Bolsonaro adotaram a camisa canarinho e a bandeira nacional como símbolos de patriotismo. O que sempre significaram. A bandeira desde a proclamação da República em 1889 e a camisa amarela a partir da Copa do Mundo de 1954, que foi disputada na Suíça.

Porém, a Copa disputada no Catar no final de 2022 mostrou que grande parcela dos brasileiros teve receio de usar a consagrada camisa amarela da Seleção com medo de serem confundidos em termos de ideologia política. Muitos optaram pela versão azul da camisa número 2, enquanto outra parte preferiu vestir camisas dos times pelos quais torcem.

Camisa da Seleção era maioria entre os manifestantes que invadiram o Palácio do Planalto, o Congresso Nacional e o Supremo Tribunal Federal. (Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil)

A Nike, fornecedora das camisas da Seleção, e a Confederação Brasileira de Futebol (CBF) perceberam isso e tentaram algumas ações antes e durante a Copa para mostrar que a vestimenta é de todos os brasileiros. Acho que não tiveram o sucesso que imaginaram.

Agora, após os atos golpistas e antidemocráticos em Brasília, os dois símbolos nacionais correm risco real de estigmatização. Tanto que a CBF rapidamente emitiu um comunicado repudiando os ataques à Praça dos Três Poderes. A entidade se classificou como "apartidária e democrática", bem como solicitou que a camisa da Seleção Brasileira seja utilizada "para unir e não para separar os brasileiros".

"A camisa da Seleção Brasileira é um símbolo da alegria do nosso povo. É para torcer, vibrar e amar o país. A CBF é uma entidade apartidária e democrática. Estimulamos que a camisa seja usada para unir e não para separar os brasileiros. A CBF repudia veementemente que a nossa camisa seja usada em atos antidemocráticos e de vandalismo", diz a nota divulgada na manhã de segunda-feira (dia 9).

O futuro da tradicional camisa amarela da Seleção Brasileira pentacampeã mundial está em risco. A CBF e a Nike sabem disso e estão bastante preocupadas. Afinal, depois do que aconteceu no Distrito Federal será muito difícil despolitizar o manto e traze-lo de volta para todos os brasileiros. 

ROBERTO MAIA É JORNALISTA, CRONISTA ESPORTIVO E EDITOR DO PORTAL TRAVELPEDIA.COM.BR

quarta-feira, 4 de janeiro de 2023

O DIA EM QUE DEI DE CARA COM O REI PELÉ NO MARACANÃ

 POR ROBERTO MAIA

À direita na foto, eu tive a oportunidade de participar de algumas entrevistas com o Rei Pelé, o mais genial jogador de todos os tempos. (Reprodução TV Globo)

O assunto dessa semana não poderia ser outro senão a morte do cidadão brasileiro Edson Arantes do Nascimento, aos 82 anos de idade. Mas, o Rei Pelé, um verdadeiro mito e cidadão do mundo, segue vivo pois é imortal.

Ao longo de minha carreira como jornalista tive a oportunidade de participar de algumas entrevistas com Pelé. Nenhuma enquanto ele destruía adversários em campo. Todas depois que ele deixou de jogar. Uma delas quando ele foi ministro dos Esportes na gestão do presidente Fernando Henrique Cardoso.

Teve até uma entrevista exclusiva conseguida de maneira inusitada. No dia 3 de setembro de 1989 fui ao Maracanã para cobrir o jogo entre Brasil e Chile, válido pelas eliminatórias sul-americanas para a Copa do Mundo de 1990, na Itália. Eu era um jovem repórter em início de carreira e à época trabalhava na rádio Iguatemi de Osasco.

O jogo ganhou repercussão mundial por causa de um incidente. A Seleção Brasileira vencia pelo placar de 1 a 0, com gol de Careca. O resultado dava a classificação ao Brasil e eliminava o Chile. Até que, aos 24 minutos do segundo tempo, um rojão foi disparado ao campo e caiu próximo ao goleiro chileno Roberto Rojas, que caiu no chão, fingindo estar ferido.

O jogo não terminou. Se o Brasil fosse punido o Chile herdaria a vaga para a Copa. A polícia identificou a torcedora que teria atirado o rojão. Mas, no dia seguinte, várias fotos e imagens de televisão revelaram que o foguete não atingiu Rojas. O artefato explodiu pouco mais de um metro de distância do goleiro.

O jogo ficou marcado para história como um dos acontecimentos mais vergonhosos do futebol mundial. O Chile foi banido das eliminatórias para a Copa do Mundo de 1994 e Rojas teve a carreira encerrada ao ser banido para sempre do esporte. A fama repentina da torcedora de 24 anos a levou a ser capa da revista Playboy e ela ficou conhecida como a “Fogueteira do Maracanã”.

Contei tudo isso para voltar ao encontro com Pelé onde consegui uma entrevista exclusiva. Após o termino do jogo sai da tribuna de imprensa para ir à sala onde seria realizada a coletiva. Caminhei por um corredor à procura da escada que me levaria ao térreo do estádio. Não encontrei a saída e ao abrir uma porta qualquer dei de cara com Pelé. Foi como se eu estivesse frente a frente com uma entidade superior, um ser mitológico que paira acima dos humanos. Sim, tomei um baita susto!

Sozinho, Pelé também estava perdido à procura das escadas. Percebi nesse momento que ele também era humano como eu. Lembro que ele perguntou se eu sabia onde era a saída. Mas não me lembro se consegui responder alguma coisa. Mas logo o meu instinto de jornalista me trouxe de volta à Terra. E, sacando meu gravador pedi para ele dizer algumas palavras sobre o incidente que marcou o jogo.

O Rei gentilmente se dispôs e falou enquanto caminhávamos em busca da escada. Achamos a saída e o maior atleta do século 20, autor de 1.283 gols e único jogador a ganhar três Copas do Mundo se despediu de mim com um sorriso e desapareceu em meio à multidão de súditos que logo o reconheceram. Eu então respirei fundo e fui para a entrevista coletiva sem me dar conta que tinha um tesouro comigo.

Infelizmente não tenho uma foto desse dia histórico. Até porque os celulares com câmeras ainda eram coisa de ficção científica. Tão pouco tenho a gravação da entrevista exclusiva com o Rei. Mas, tudo bem, porque hoje posso dizer e deixar registrado aqui que um dia eu tive o privilégio de estar junto e falar com o maior e mais genial jogador de futebol de todos os tempos.

Que o Edson Arantes do Nascimento descanse em paz, porque o Pelé é eterno!

ROBERTO MAIA É JORNALISTA, CRONISTA ESPORTIVO E EDITOR DO PORTAL TRAVELPEDIA.COM.BR