POR
ROBERTO MAIA
Cuca se declara inocente no caso ocorrido na Suíça; foi condenado há 15 meses de prisão, mas nunca cumpriu a pena. (Foto: Rodrigo Coca/Agência Corinthians)
E é sobre a contratação de Cuca que quero tratar
esta semana. Sem dúvida um treinador conceituado no Brasil e com importantes
conquistas: Libertadores (2013), Campeonato Brasileiro (2016 e 2021), Copa do
Brasil (2021), Campeonato Mineiro (2011, 2012, 2013 e 2021) e Campeonato
Carioca (2009).
Mas, apesar de ser considerado um treinador
qualificado, a sua contratação pelo Corinthians trouxe à tona um caso que Cuca
queria ver esquecido: a acusação de violência sexual a uma menina de 13 anos
ocorrida na Suíça em 1987.
Cuca e outros três jogadores do Grêmio foram
julgados à revelia e condenados pelo tribunal de Berna há 15 meses de prisão.
Os jogadores que retornaram ao Brasil nunca cumpriram a pena. O crime
prescreveu em 2012.
O treinador sempre negou participação no episódio e
seguiu normalmente sua carreira como jogador de futebol. Depois do Grêmio ainda
atuou por Real Valladolid, Internacional, Palmeiras, Santos, Portuguesa, Remo, Juventude
e Chapecoense. Como treinador comandou o São Paulo, Palmeiras, Botafogo,
Atlético-MG, Grêmio, Flamengo, Fluminense, Cruzeiro e Santos.
Outro jogador acusado pelo mesmo crime na Suíça, o
zagueiro Henrique também seguiu adiante. Inclusive jogou no Corinthians entre
1992 e 1997, onde participou de 292 jogos, fez 17 gols e foi até capitão do
time.
Não estou aqui para julgá-los nem para defendê-los.
O que quero ressaltar é que é impossível apagar a história. Ela sempre volta. Para
o azar de Cuca e de muitas outras pessoas atualmente, as redes sociais chegaram
e resgatam atos comedidos no passado. Ela também julga e condena. Nela os
crimes cometidos nunca prescrevem. E a condenação é implacável e perpétua.
A direção do Corinthians devia saber disso quando
resolveu trazer Cuca para o Timão. Correu o risco e estabeleceu uma pressão que
pode prejudicar o time em um momento decisivo da temporada.
Na sexta-feira passada, um grupo de torcedoras foi ao
CT Joaquim Grava para protestar. As torcidas organizadas Camisa 12, Estopim e
Pavilhão 9 publicaram notas de repúdio. Muros do Parque São Jorge foram
pichados com frases como “Fora Cuca”.
No domingo passado, no minuto 87 do jogo contra o
Goiás, as jogadoras do time feminino do Corinthians e até o treinador Arthur
Elias criticaram em postagens nas medias sociais a escolha da diretoria. Para
um clube que tem slogan como “Respeita as Minas”, contratar um profissional que
tem condenação por estupro de vulnerável é muito incoerente.
Atualmente haveria repercussão em qualquer time que
ousasse contratar Cuca, mas no Corinthians ganhou repercussão muito maior.
Afinal, o clube tem mais de 50% dos seus torcedores do sexo feminino. E sempre
se envolveu em importantes causas sociais. A própria arena Neo Química ostenta
dizeres como “é o time do povo”.
O presidente Duílio não pensou no legado deixado
pelo seu pai Adilson Monteiro Alves, líder do movimento Democracia Corinthiana
– juntamente com o saudoso doutor Sócrates – que marcou época no futebol
brasileiro por defender a democracia no futebol e no País.
O Corinthians é muito grande e não precisava de
Cuca. Entendo que o treinador é competente e pode até vir a conquistar títulos
no Timão. Mas estará registrado na história do clube para sempre e as redes
sociais não irão esquecer e nem perdoar.
ROBERTO
MAIA É JORNALISTA, CRONISTA ESPORTIVO E EDITOR DO PORTAL TRAVELPEDIA.COM.BR