sexta-feira, 27 de novembro de 2015

Corinthians é o Barcelona do Brasil

Publicado no dia 26 de novembro de 2015

Por Roberto Maia

Em campo, o Corinthians mostrou que tem muito mais que um time. 
Seu elenco “comprou” a ideia tática do treinador Tite. 
(Foto: Agência Corinthians/Divulgação)

O que já era uma bola cantada se transformou em realidade. O Corinthians é o campeão brasileiro de 2015. O título, conquistado longe da sua torcida no acanhado estádio de São Januário frente ao agonizante Vasco da Gama, premia o time mais bem preparado do país e revela o abismo que está se formando para as demais grandes equipes do futebol brasileiro. O Corinthians foi campeão também fora das quatro linhas. Qual time brasileiro teve apenas três treinadores nos últimos oito anos? Na prática dois – Tite e Mano Menezes -, porque Adilson Batista teve passagem relâmpago no comando do alvinegro. Durante esse mesmo período, o grupo político que chegou ao comando do clube em 2007 – ano em que o time caiu para a Série B do Brasileirão - fez mudanças profundas na administração. Entre as mais significativas, alterou os estatutos que prevê alternância na presidência a cada três anos, eleições diretas com voto dos associados, construiu um centro de treinamento dotado de sofisticada infraestrutura e uma arena que pode ser considerada uma das mais modernas do mundo. Os resultados logo começaram a surgir com o Timão conquistando a Copa do Brasil (2009), Paulistão (2009 e 2013), Brasileirão (2011), Libertadores da América (2012), Mundial Interclubes da FIFA (2012) e Recopa Sul-Americana (2013). O hexacampeonato deste ano é apenas mais um para coroar o êxito da administração.

   Claro que a oposição dentro do clube não está satisfeita – o que é saudável - e cobra promessas não cumpridas. É o caso do CT da base que ainda não foi concluído. O complexo está sendo construído ao lado do CT dos profissionais. Mesmo sem as condições ideais, a base corinthiana vem revelando talentos. Se não gerou nenhum craque fora de série, colocou jovens promissores na foto do título nacional. Lá estão Malcon, Marciel, Guilherme Arana, Yago, Matheus Vidotto, Matheus Pereira, Matheus Vargas, Rodrigo Sam, Pedro Henrique, Samuel e Gustavo Vieira.

   Tudo isso aliado a um faturamento excepcional oriundo da grande exposição na mídia e da força da torcida, que empurra o time em campo e consume muito fora dele. A continuar nessa toada o Corinthians tem tudo para se isolar no topo do futebol brasileiro. Claro, se continuar determinado no planejamento desenvolvido até aqui e não se deslumbrar com as conquistas alcançadas. 

  Nos últimos dias os torcedores do Corinthians tripudiaram os rivais e principalmente os são-paulinos por causa do humilhante 6 a 1 do último domingo. Após placar semelhante do Barcelona em cima da Roma em jogo da Liga dos Campeões da Europa, o comentário nas mídias sociais era de que o Barça não é isso tudo e que deveria enfrentar o time reserva do Timão para ver o que é bom. Será?

   E foi justamente no time espanhol da Catalunha que os dirigentes alvinegros foram buscar referências em 2007. Em novembro daquele ano, três diretores do Barcelona estiveram no Parque São Jorge conversando com diretores e conselheiros do Timão. O encontro era uma retribuição à visita do então diretor financeiro, Raul Corrêa da Silva para conhecer a estrutura do clube e os projetos administrativos e de marketing. O plano era administrar o Corinthians de uma maneira mais moderna. Na oportunidade, os diretores do Barça apresentaram um projeto de gestão que foi desenvolvido quando o clube estava em uma situação muito parecida com a do Corinthians. O então presidente Andrés Sanchez usou os mesmos padrões internacionais de gestão, apenas adaptando à realidade do futebol brasileiro. 

   Parece que deu certo.

A taça do hexacampeonato veio para coroar um trabalho iniciado 
em 2007 com o time rebaixado para a Série B do Brasileirão 
(Fotos: Agência Corinthians/Divulgação) 

“O sonho acabou, vamos encarar a realidade!”

Publicada no dia 19 de novembro de 2015

Por Roberto Maia

A antes temida camisa canarinho da seleção já não mete medo nos 
adversários e não encanta os torcedores (Foto: Rafael Ribeiro/CBF)

Já vai longe o tempo em que um jogo da seleção brasileira conseguia concentrar as atenções e até parar o país. Houve tempo em que torcedores comemoravam quando jogadores do seu time eram convocados para a seleção. Hoje, pelo contrário, lamentam. Eu mesmo acho que a última vez que me emocionei e vibrei com a seleção brasileira foi durante a Copa de 1982, quando era treinada por Tele Santana e encantou o mundo com o futebol apresentado. Como nem tudo é perfeito, infelizmente, acabamos eliminados pela Itália. Até hoje, passados 33 anos, aquele time é lembrado com saudades. Juro que lamento muito mais aquela triste eliminação do que o humilhante 7 a 1 para a Alemanha na Copa de 2014.

   Atualmente, vejo que nas mídias sociais os clubes merecem muito mais espaço e comentários do que a seleção. Já testemunhei comentários nos dias seguintes a jogos das eliminatórias que mostram o quanto distante está a população na outrora temível e respeitada seleção brasileira. Enquanto tomava um cafezinho na padaria, na manhã após o jogo contra a Argentina, ouvi ao meu lado dois amigos conversando:

- Assistiu ao jogo da seleção ontem?

- Não, estava mais preocupado com os atentados terroristas em Paris.

- E você, assistiu?

- Um pouco. Mas estava tão feio que já estava torcendo para a Argentina, quem sabe mandam o Dunga embora e o Tite assume a seleção.

   Triste realidade! Chegamos ao ponto de um brasileiro torcer para a Argentina contra nós para ver se as coisas melhoram. E não há como tirar a razão desses desiludidos torcedores. Os dirigentes e o modelo de gestão adotado nos últimos anos estão enterrando o que já foi o nosso maior patrimônio e motivo de orgulho. A seleção brasileira em campo é apenas o reflexo do que acontece fora das quatro linhas. Como podemos ser fortes e respeitados se o ex-presidente da CBF está preso nos Estados Unidos e o atual morre de medo de também acabar atrás das grades? Com um treinador que, embora seja um campeão mundial como jogador, nunca ganhou um título importante na carreira. Dunga pode até ter virtudes como técnico, mas encontra muitas limitações para exercer o seu trabalho. Ele nem sempre consegue convocar os melhores jogadores, além de não treinar o time de forma adequada por falta de tempo. Para não perder o emprego, adota um futebol medroso e que pouco explora as qualidades individuais dos jogadores.

   A seleção hoje vive uma dependência absurda de Neymar. Claro que o craque do Barcelona pode decidir partidas, mas é muito pouco para nossa seleção. Se ele não joga ou se não está inspirado corremos o risco de uma derrota. E não precisa ser uma seleção de primeira linha mundial para ameaçar o Brasil. Sofremos até em jogos para selecionados menos expressivos e sem tradição no mundo do futebol. Assistir a um jogo da nossa seleção é um exercício de paciência. Torcer e vibrar então já é pedir demais.

   A que ponto chegamos! Se eu fico nervoso assistindo aos jogos do selecionado brasileiro, imagino o quanto devem ficar irritados craques do passado como Pelé, Rivellino, Gerson, Tostão, Carlos Alberto, Clodoaldo, etc.


   Para quem não sabe, a frase do título dessa coluna é de um gênio que deixou saudade, tal qual o futebol praticado pela seleção brasileira no passado. Peguei emprestada, pois nada pode ser mais atual e perfeito para o momento da nossa seleção do que a frase dita por John Lennon sobre o fim dos Beatles. 

Dunga não é o único culpado pelo triste  momento 
vivido pela seleção brasileira (Foto: Rafael Ribeiro/CBF)

Água Santa e São Paulo, exemplos extremos do futebol

Publicado no dia 12 de novembro de 2015

Por Roberto Maia

Fundado em 1981, o Água Santa disputou apenas competições 
amadoras até 2011 (Foto: diadema.sp.gov.br)

Entra ano, sai ano e não percebemos avanços significativos na estrutura e na gestão do futebol brasileiro. A Copa do Mundo de 2014 na prática só serviu para a construção e reforma de uma dúzia de arenas pelo país, além de muitas outras coisas estranhas envolvendo o dinheiro público. Algumas arenas tornaram-se absolutamente inúteis após o termino do Mundial. No geral, o que vemos são estádios arcaicos, sem mínimas condições de receber público e com gramados que mais parecem pastos. Que me desculpem os pecuaristas com a comparação, pois, certamente, há pastos em melhores condições.

   Por falar em estádios sem condições de receber jogos dos times da elite do futebol brasileiro, não há como não comentar o do Esporte clube Água Santa, de Diadema, na região do ABC paulista. Não contra o time que conquistou brilhantemente no campo o direito de disputar a Séria A1 do Paulistão de 2016. O time de Diadema pode ser considerado um fenômeno e com futuro promissor se conseguir manter e ampliar o profissionalismo mostrado até agora. Após se profissionalizar em 2012, quando disputou a quarta divisão do Campeonato Paulista, o Água Santa conquistou três acessos consecutivos até chegar à elite paulista. O problema não está no campo e sim na estrutura que o clube dispõe para receber jogos dos times grandes da capital e suas torcidas.

   Para se adequar às exigências da Federação Paulista de Futebol, que determina estádios com capacidade para pelo menos 10 mil torcedores, o Água Santa correu para ampliar a sua casa. Correu tanto que na semana passada viu parte das arquibancadas desabar. O acidente coloca em risco os planos do clube para o Paulistão 2016. Caso não haja tempo para reerguer a estrutura e o estádio não seja liberado em tempo, o Mirassol, quinto colocado do Paulista A2 de 2014 ocupará o lugar do Água Santa no Grupo D do Paulistão, que tem o Corinthians, RB Brasil, Mogi Mirim e Rio Claro.

  Se isso acontecer será uma pena para o time de Diadema, mas deixará escancarada a falta de profissionalismo no futebol. Como se já não bastasse o campeonato realizado em poucas datas, com excesso de times e com uma fórmula esdrúxula que coloca frente a frente times profissionais e outros semiprofissionais e quase amadores.

  Mas profissionalismo não é uma palavra que pode ser aplicada à gestão da maioria dos grandes times do futebol brasileiro. A todo instante vemos exemplos de amadorismo explícito praticado por dirigentes despreparados e incompetentes. Nesse rol poucos escapam.

   Um exemplo recente é o que os dirigentes estão fazendo com o São Paulo Futebol Clube. Clube rico, o Tricolor já foi considerado um exemplo de administração. Hoje é exemplo de como fazer as coisas erradas. Como se não bastassem as denúncias de corrupção e a troca de sopapos entre o presidente e o vice – que culminaram com a renúncia de Carlos Miguel Aidar -, ainda demitiram o jovem treinador Doriva, que estava há apenas um mês no clube. E faltando apenas quatro rodadas para o fim do Brasileirão e o time ainda disputando uma vaga na Libertadores. Então Doriva era bom para o ex-dirigente e ruim para o atual? Percebemos claramente que não existem critérios para a contratação de um treinador. E se Milton Cruz é bom o suficiente para encarar essa difícil missão porque então ele nunca é efetivado como treinador? A resposta é simples: não existe planejamento.

Água Santa a São Paulo são apenas retratos de dois extremos do futebol paulista. A gestão sem planejamento pode até dar frutos em curto prazo, porém não resiste por muito tempo. Será que é difícil entender isso?   

Renúncia de Carlos Miguel Aidar parece não ter 
mudado nada no São Paulo 
(Foto: Rubens Chiri/saopaulofc.net)  

Campeonato “manchado” pela competência de Tite


Publicado no dia 05 de novembro de 2015                                                                   

                                                                      Por Roberto Maia

Tite merece o respeito dos torcedores pelo trabalho sério 
no comando do Corinthians (Foto: Agência Corinthians/Divulgação)

Depois do jogo entre Atlético-MG e Corinthians no domingo passado, o treinador atleticano Levir Culpi perdeu a chance de ficar calado quando reafirmou que o campeonato está “manchado”. Considero o Levir um dos melhores técnicos do Brasil e está fazendo um excelente trabalho com o alvinegro mineiro. Mas, desmerecer o trabalho do seu colega de profissão Tite foi demais. Como já disse aqui nesta coluna, os erros de arbitragem excederam todos os limites nesse Brasileirão. Difícil dizer quem não saiu prejudicado. O professor Levir não pode esquecer que se hoje o Corinthians está 11 pontos à frente do Galo é porque venceu os dois confrontos diretos. Se o Atlético tivesse saído vitorioso nos dois jogos essa diferença seria de apenas cinco pontos e o campeonato estaria aberto.

   Sempre fui crítico do estilo do Tite, que até em determinado momento era chamado de “Empatitie” tantos eram os empates do time corinthiano. Certo que mesmo com sua tática retranqueira e achando que o empate é melhor que uma derrota, o Corinthians conquistou os maiores e mais importantes títulos da sua história. Mas sem nunca apresentar um futebol vistoso. Pragmatismo de resultados.

   Após o ano sabático de Tite em 2014, quando viajou para a Europa para “aprender”, muitos – e eu me incluo – não acreditaram que o aprendizado pudesse ser demonstrado de maneira tão eficiente. Tite mostrou que além de evoluir taticamente, consegue como ninguém administrar um vestiário. Para quem não lembra, o time que estreou no Brasileirão em jogo contra o Cruzeiro, em Minas, tinha Cassio, Edilson, Yago, Edu Dracena e Uendel; Cristian, Bruno Henrique, Petros e Emerson; Mendoza e Romero. O time começou bem o campeonato, mas logo perdeu suas duas principais estrelas – Guerrero e Emerso -, além de Fábio Santos, Petros e Mendoza. Fora isso, contornou problemas como a insatisfação dos jogadores com salários atrasados e as contusões sérias de Fagner, Bruno Henrique, Uendel, Rildo e Luciano. Sem esquecer a péssima fase técnica e fisica de Vagner Love.

   Até os mais fanáticos corinthianos imaginavam a reviravolta que iria acontecer. Campeão? Nem pensar! Era time para no máximo ficar no meio da tabela e fugir da zona da degola. Tite merece os parabéns pelo trabalho e o respeito de todas as torcidas. Ele pode estar abrindo o caminho para uma nova safra de treinadores, jogando para a aposentadoria aqueles que não estudam e sejam realmente profissionais em suas funções. O campeoníssimo Murici Ramalho percebeu isso e já está trilhando o mesmo caminho do técnico corinthiano. Foi para a Europa e humildemente foi aprender com o Barcelona.