O
grito estava engasgado na garganta dos tricolores ao longo de sofríveis 120
minutos de
bola rolando mais alguns – intermináveis – das cobranças dos
pênaltis (Foto: grêmio.net)
Enquanto o Paulistão não engrena e entra na fase que
realmente empolgará os torcedores, o Brasil já tem o seu primeiro campeão de
2018. O Grêmio conquistou a Recopa Sul-americana, no dia 21 de fevereiro, em um jogo que deixou seus
torcedores à beira de um ataque cardíaco. O adversário não poderia ser pior, um
time argentino, catimbeiro, que não desiste nunca, o Independiente.
Apesar de jogar cerca de 50 minutos com um jogador a
mais em campo, o Tricolor Gaúcho não conseguiu marcar em sua arena lotada. Veio
a prorrogação e depois a disputa de pênaltis. Tudo muito igual. Pênaltis bem
batidos de lado a lado até que no quinto e derradeiro brilhou a estrela do
ótimo goleiro Marcelo Grohe, que fez a defesa e lavou a alma dos gremistas. Bom
para ele que o treinador da Seleção Brasileira, Tite estava lá assistindo.
A obrigação de atacar e vencer o jogo era do Grêmio,
que jogava em casa. E atacou muito, mas não chegava às redes. Já o Independiente
aproveitava os contra-ataques. Também tiveram chances de abrir o placar, mas,
tal como os gremistas, pecavam na hora de concluir. Importante frisar que o
goleiro argentino Campaña fez verdadeiros milagres no jogo de ontem.
Os hermanos, como sempre, não economizaram na hora
de fazer faltas violentas para parar o ataque gremista. Distribuíram pancadas
até que, Amorebieta afastou uma bola na área e deixou as travas da sua chuteira
no peito de Luan. Com a ajuda do vídeo, o árbitro deu cartão vermelho para o zagueiro.
O que parecia ser uma enorme vantagem não se
refletiu em campo. O segundo tempo foi ainda mais tenso. Gremistas presentes na
arena e espalhados pelo país certamente roeram todas as unhas e o gol redentor
não aconteceu.
Assistindo ao jogo lembrei de um amigo gaúcho, o
jornalista Airton Gontow, um gremista ferrenho que deveria estar à beira do
enfarto. Estava sentindo dó dele, que mora em São Paulo, tão distante da sua
terra querida. Aí lembrei que ele já passou por momento ainda mais tensos com o
seu Grêmio e já está vacinado.
O
jovem Anderson entrou para a história gremista
ao marcar um gol quase impossível
no jogo que
ficou marcado como a “Batalha dos Aflitos”
(Foto:
Grêmio/divulgação)
Batalha dos Aflitos - Foi inevitável lembrar da histórica “Batalha dos
Aflitos”, nome dado ao jogo contra o Náutico, em Recife, no dia 26 de novembro
de 2005. Última rodada do Brasileirão da Série B daquele ano e o Grêmio precisando
apenas empatar sem sofrer gol para voltar à principal divisão do futebol
brasileiro. Tal como ontem, o gol também não acontecia. O enredo daquele jogo teve
requintes de crueldade com os torcedores gaúchos. No primeiro tempo houve um
pênalti a favor do Náutico, que não foi convertido para a alegria dos gremistas
e do ainda pouco conhecido treinador Mano Menezes.
Para piorar tudo, no segundo tempo o Tricolor teve um
jogador expulso e mais uma penalidade marcada para o Náutico. A reclamação foi grande
e outros três gremistas receberam o cartão vermelho. O desastre parecia
inevitável. Com sete em campo, nenhum outro poderia ser expulso para que o jogo
não terminasse naquele momento. A agonia parecia não ter fim. Os corações dos
tricolores dispararam no momento em que o jogador do Náutico correu para a
bola. Segundos intermináveis. Até que o jovem goleiro Galatto, de apenas 22
anos, fez a defesa mais importante e histórica da sua vida. Defesa que lhe rendeu
o apelido de “Homem de Gelo”.
Airton Gontow, diretor do site Coroa Metade,
comemorou
muito a conquista da Recopa 2018
|
Mas como segurar a bola e garantir aquele empate com
apenas sete em campo? Impossível? Não para o Imortal time centenário de Porto
Alegre. O milagre da raça gremista se materializou aos 63 minutos de jogo do
segundo tempo. Um outro jovem, Anderson, camisa 17, como que não acreditando no
impossível decidiu invadir a área adversária e com um sutil toque marcou o gol improvável.
Gol que garantiu o título e o acesso. Gol que colocou um jogo na história do
time gaúcho e na memória dos torcedores.
E se o meu amigo Airton não morreu naquele dia não
haveria de ser ontem contra o Independiente. Mandei uma mensagem para ele dando
os parabéns e fui dormir. Ele teve ter varado a noite comemorando o
bicampeonato. Merecidamente!