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ROBERTO MAIA
A tradicional camisa amarela da Seleção Brasileira foi adotada em 1954, na Copa do Mundo disputada na Suíça. (Foto: CBF/divulgação)
Após os atos terroristas verificados no último domingo em Brasília, quando milhares de pessoas invadiram, depredaram e saquearam os prédios do Supremo Tribunal Federal, Congresso Nacional e Palácio do Planalto, diversas entidades saíram em defesa da democracia e das instituições. Nada mais justo. Afinal a constituição brasileira precisa ser respeitada e cumprida e o estado de direito preservado.
Mas não quero entrar aqui no aspecto político e
ideológico da questão. Entendo que não seja o espaço adequado para isso. Quero
falar sobre o risco da camisa da Seleção Brasileira – e também a bandeira do
Brasil – ficar estigmatizada.
Nos últimos quatro anos os apoiadores do
ex-presidente Jair Bolsonaro adotaram a camisa canarinho e a bandeira nacional
como símbolos de patriotismo. O que sempre significaram. A bandeira desde a
proclamação da República em 1889 e a camisa amarela a partir da Copa do Mundo
de 1954, que foi disputada na Suíça.
Porém, a Copa disputada no Catar no final de 2022
mostrou que grande parcela dos brasileiros teve receio de usar a consagrada
camisa amarela da Seleção com medo de serem confundidos em termos de ideologia
política. Muitos optaram pela versão azul da camisa número 2, enquanto outra
parte preferiu vestir camisas dos times pelos quais torcem.
Camisa da Seleção era maioria entre os manifestantes que invadiram o Palácio do Planalto, o Congresso Nacional e o Supremo Tribunal Federal. (Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil)
A Nike, fornecedora das camisas da Seleção, e a Confederação
Brasileira de Futebol (CBF) perceberam isso e tentaram algumas ações antes e
durante a Copa para mostrar que a vestimenta é de todos os brasileiros. Acho
que não tiveram o sucesso que imaginaram.
Agora, após os atos golpistas e antidemocráticos em
Brasília, os dois símbolos nacionais correm risco real de estigmatização. Tanto
que a CBF rapidamente emitiu um comunicado repudiando os ataques à Praça dos
Três Poderes. A entidade se classificou como "apartidária e
democrática", bem como solicitou que a camisa da Seleção Brasileira seja
utilizada "para unir e não para separar os brasileiros".
"A camisa da Seleção Brasileira é um símbolo da
alegria do nosso povo. É para torcer, vibrar e amar o país. A CBF é uma
entidade apartidária e democrática. Estimulamos que a camisa seja usada para
unir e não para separar os brasileiros. A CBF repudia veementemente que a nossa
camisa seja usada em atos antidemocráticos e de vandalismo", diz a nota divulgada
na manhã de segunda-feira (dia 9).
O futuro da tradicional camisa amarela da Seleção
Brasileira pentacampeã mundial está em risco. A CBF e a Nike sabem disso e
estão bastante preocupadas. Afinal, depois do que aconteceu no Distrito Federal
será muito difícil despolitizar o manto e traze-lo de volta para todos os
brasileiros.
ROBERTO
MAIA É JORNALISTA, CRONISTA ESPORTIVO E EDITOR DO PORTAL TRAVELPEDIA.COM.BR