POR ROBERTO MAIA
Foto: Rodrigo Coca/Agência Corinthians
O Corinthians estreou na Copa Libertadores de 2022
perdendo para o Always Ready em La Paz, na Bolívia. Sem levar em consideração
os 3.600 metros de altitude da capital boliviana, que faz a bola ganhar
velocidade e causa falta de ar em quem não está acostumado, a torcida
corinthiana não aceitou a derrota. Revoltados os torcedores foram às redes
sociais e bradaram que faltou raça ao time.
No dia seguinte, uma comitiva com 14 integrantes da
torcida organizada Gaviões da Fiel foi ao Centro de Treinamento do Corinthians
para mais uma reunião com dirigentes, comissão técnica e jogadores. Como sempre
acontece, a entrada foi liberada pela diretoria corinthiana e a conversa
aconteceu. Segundo o presidente da Gaviões, o grupo foi pedir mais empenho e
raça dos jogadores nos jogos.
Há quem defenda essas reuniões, da mesma forma que
outros acham inadmissível os torcedores entrarem no local de trabalho dos
jogadores para dar bronca. Se está certo ou errado, o fato é que não é de hoje
que presidentes do Corinthians permitem essas conversas. Algo impensável no
futebol profissional praticado na Europa, por exemplo.
Como tudo hoje em dia, o assunto repercutiu
rapidamente nos sites e mídias sociais. Talvez por isso, outros torcedores
também se sentiram no direito de cobrar e até ameaçar de morte ídolos do clube
como o goleiro Cássio, o zagueiro Gil e o meia-atacante William, além do
presidente Duílio Monteiro Alves. E não apenas eles. Os valentões da internet
também ameaçaram esposas e filhos dos atletas.
No caso de Cássio, um dos maiores ídolos da história
contemporânea do Corinthians, as ameaças foram feitas através do Instagram. Áudios
e uma foto de uma arma sobre a camisa do Timão foram enviados para o personal trainer da esposa do goleiro,
que também foi alvo de ofensas.
Foto: Daniel Augusto
Jr./Agência Corinthians
Será que esse e outros torcedores radicais já
esqueceram da história vitoriosa de Cássio no Corinthians? E das conquistas em
que ele foi o protagonista? Há 10 anos no clube, o camisa 12 levantou nove
taças nesse período: Copa Libertadores (2012), Mundial de Clubes (2012), Recopa
Sul-Americana (2013), Brasileirão (2015 e 2017) e Campeonato Paulista (2013,
2017, 2018 e 2019).
Com 34 anos, titular absoluto e capitão do time,
Cássio completou 577 jogos pelo Corinthians na estreia do Brasileirão domingo
passado. Ele já é o sexto jogador que mais atuou pelo Timão, atrás apenas de
Biro-Biro (590), Zé Maria (598), Ronaldo Giovanelli (602), Luizinho (606) e
Wladimir (806). Se nada acontecer, ele fechará o ano na segunda posição.
Os números falam por si e Cássio merece todas as
reverências por parte dos torcedores. Claro que em alguns jogos ele falhou, mas
o seu saldo é amplamente positivo. E cabe somente ao treinador decidir se o
mantém como titular ou se o retira do time para deixá-lo na reserva.
Apesar de tudo o que aconteceu, Cássio segue no
Corinthians e foi a campo no domingo contra o Botafogo, no Rio de Janeiro. Após
o jogo, o goleiro deu entrevistas onde lamentou a situação que gerou pânico
entre seus familiares. Ele disse que boatos deram início à onda de ódio contra
ele e outros líderes do time, sobre uma suposta "panelinha" que queria
derrubar o técnico Vítor Pereira. “Fiquei chateado com as pessoas envolverem
meu nome com panela, time rachado e outras coisas, isso não existe no
Corinthians. Respeito a crítica, sou ser humano, erro, mas jamais vou me sentir
maior que a instituição”, disse.
Tudo indica que Cássio seguirá atuando pelo
Corinthians, bem como William e Gil. Mas nem sempre foi assim. Outros ídolos da
história corinthiana também foram ameaçados e até agredidos por torcedores. Casos
de Rivelino – na minha opinião o maior jogador da história do Corinthians -,
Edilson, Carlitos Tevez, Roberto Carlos, Emerson Sheik e Paolo Guerreiro
somente para citar nomes mais importantes. E ouso afirmar que Ronaldo Fenômeno
optou por encerrar a carreira em um momento de muitas críticas da torcida
contra os jogadores.
A torcida do Corinthians sempre tão elogiada pelo
papel decisivo que desempenha, não pode permitir que alguns poucos ameacem e
agridam os ídolos que contribuíram nas conquistas e entraram para a história
centenária do clube.
ROBERTO
MAIA É JORNALISTA, CRONISTA ESPORTIVO E EDITOR DO PORTAL TRAVELPEDIA.COM.BR