quinta-feira, 24 de junho de 2021

CLUBE-EMPRESA CADA VEZ MAIS PERTO. SENADO APROVA A SOCIEDADE ANÔNIMA DO FUTEBOL

POR ROBERTO MAIA

O Red Bull Bragantino é exemplo de clube-empresa no Brasil. A empresa que produz o famoso energético também é dona do Red Bull Leipzig (Alemanha), do Red Bull Salzubrg (Áustria)
e do New York Red Bulls (EUA). (Foto: redbullbragantino.com.br)

O que era apenas uma discussão entre senadores agora caminha a passos largos para se tornar realidade. Há alguns dias, o Senado Federal aprovou o projeto de lei que cria a Sociedade Anônima do Futebol (SAF), que permite aos clubes se transformarem em empresas. O texto de autoria do presidente do Congresso Nacional, Rodrigo Pacheco (DEM-MG), agora está em tramitação na Câmara dos Deputados. Se também tiver a aprovação entre os deputados federais seguirá para a sansão do presidente Jair Bolsonaro. 

Os clubes brasileiros vivem momento extremamente difícil financeiramente. Situação que se agravou ainda mais com a pandemia. Sem público nos estádios as agremiações perderam a receita vinda da venda dos ingressos. Muitas empresas patrocinadoras, também vítimas da crise na economia, romperam contratos. Até a transferência de atletas teve queda. Restou apenas a cota paga pela transmissão dos jogos pela televisão.

Como sempre acontece em momentos como esse, soluções políticas surgem para socorrer os clubes de futebol. É o caso de projeto que ficou durante muito tempo engavetado no Senado Federal. Com a ascensão de Rodrigo Pacheco à presidência da casa ele foi colocado em pauta com o propósito de encontrar uma alternativa de socorro aos clubes.

O projeto de lei que cria a Sociedade Anônima do Futebol é de autoria do senador Rodrigo Pacheco, presidente do Congresso. (Foto: Pedro França/Agência Senado)

O modelo aprovado passa a ser opção facultativa aos clubes de se transformarem em clube-empresa. Os que optarem em se tornar uma Sociedade Anônima do Futebol terão garantido o pagamento das dívidas cível e trabalhista em um acordo de longo prazo - 10 anos. Também poderão contar com recursos de investidores, que passariam a ser sócios da empresa e ainda pagariam impostos ao governo, o que hoje as associações não fazem. Aderindo à SAF os clubes-empresas terão um regime tributário especial com uma alíquota de 4% das receitas mensais recebidas, excluindo inicialmente as transferências de jogadores.

Também passarão a ter instrumentos para capitalização de recursos e para o financiamento próprio. Poderão emitir títulos de dívida, atrair fundos de investimentos e até lançar ações em bolsa de valores. Outro aspecto ressaltado no projeto aprovado é que os clubes terão instrumentos de controle, governança e compliance, além de serem fiscalizados por órgãos internos e externos como a Comissão de Valores Mobiliários (CVM), o que não acontece em outros modelos empresariais.

O relator do projeto que cria a SAF, senador Carlos Portinho (PL-RJ), acredita que a mudança para clube-empresa pode ser uma alternativa para grandes clubes que atualmente acumulam dívidas milionárias. Ele cita vários e destaca os três com maior endividamento tributário: Botafogo (RJ)/R$ 425 milhões, Corinthians/R$ 417 milhões e Atlético (MG)/R$ 292 milhões.

Apesar das vantagens propostas para quem optar pela SAF, os torcedores temem que o clube-empresa virá para privatizar os clubes, que passariam a ter donos. Modelo que existe há muito tempo na Europa, principalmente entre os clubes ingleses, onde clubes tradicionais foram adquiridos por milionários de diversas partes do mundo. Agora é aguardar para ver com quem está a razão.

ROBERTO MAIA É JORNALISTA, CRONISTA ESPORTIVO, EDITOR DA REVISTA QUAL VIAGEM E DO PORTAL TRAVELPEDIA.COM.BR

quinta-feira, 17 de junho de 2021

CLUBES ANUNCIAM INTENÇÃO DE CRIAR UMA LIGA. COMO DIRIA SÃO TOMÉ: SÓ ACREDITO VENDO!

 POR ROBERTO MAIA

Clubes pedem alteração estatutária na CBF que dê maior participação nas decisões institucionais e na gestão. (Foto: Lucas Figueiredo/CBF)

Ditado muito comum na cultura popular diz “sou como São Tomé, só acredito vendo.”  Pois eu estou como o apóstolo de Cristo, que somente acreditou na ressureição de Jesus após vê-lo e tocá-lo. Não consigo acreditar que os clubes da Série A do Campeonato Brasileiro cumpram a promessa de fundar uma liga independente para organizar o Brasileirão já a partir do próximo ano. O documento de intensão tem como signatários 19 clubes e foi entregue à direção da Confederação Brasileira de Futebol (CBF). Apenas o Sport não assinou por estar sem presidente, porém, em nota, o clube pernambucano garantiu ser favorável e que oficializará sua adesão o mais breve possível.

Na minha opinião os clubes estão aproveitando o momento de fragilidade da CBF, que afastou o presidente Rogério Caboclo por causa de denúncia de assédio sexual e moral, para conseguirem algumas vantagens. Pleito que considero legítimo, afinal os clubes são os grandes protagonistas do futebol e devem participar das decisões tomadas pela Confederação. Tanto que na carta mencionam como motivos “diversos acontecimentos que vêm se acumulando ao longo dos anos e que revelam um distanciamento total e absoluto entre os anseios dos clubes que dão suporte ao futebol profissional brasileiro e a forma como que é gerida a CBF.”

Os clubes pedem a imediata alteração estatutária na CBF que dê maior participação a eles nas decisões institucionais e na gestão. Querem igualdade com as federações no processo eleitoral para escolha do presidente e vice da entidade. Atualmente, os votos de federações e clubes não têm o mesmo peso. Nada mais justo, visto que os votos das 27 federações têm peso 3, enquanto os clubes da Série A têm peso 2 e os da Série B peso 1.

Também pedem o fim dos requisitos mínimos para inscrição das chapas concorrentes à eleição da CBF, abolindo-se a necessidade de apoio de oito federações e cinco clubes. Querem que para o lançamento de chapas baste o apoio ao menos 13 eleitores, independentemente de serem clubes ou federações.

Clubes da Série A anunciam intenção de criar uma liga para organizar o Brasileirão já em 2022. (Foto: Lucas Figueiredo/CBF)

Concordo com as reivindicações, porém, tal como São Tomé ainda não acredito que irão adiante. O motivo da minha descrença é a última tentativa dos clubes de assumirem o protagonismo no gerenciamento do Brasileirão. Foi em 1987, quando treze clubes fundaram o Clube dos 13. Inicialmente formado por Atlético-MG, Bahia, Botafogo, Corinthians, Cruzeiro, Flamengo, Fluminense, Grêmio, Internacional, Palmeiras, Santos, São Paulo e Vasco, o grupo chegou a ter 20 membros.

O motivo da criação era tão legítimo como o de agora. Os clubes associados adquiriram maior poder em negociações coletivas, principalmente na comercialização dos direitos de transmissão dos jogos. O Clube dos 13 assumiu a responsabilidade pela organização do Campeonato Brasileiro daquele ano, que foi disputado com o nome de Copa União e teve o Flamengo como campeão.

Tudo parecia ir bem até que a CBF decidiu ir contra a competição e realizou um campeonato paralelo que ficou conhecido como Módulo Amarelo, que teve final entre Sport e Guarani com o time de Recife sagrando-se campeão.

A CBF bem que tentou realizar um quadrangular entre os times finalistas dos dois campeonatos para decidir quem seria o verdadeiro campeão de 1987. O torneio não foi realizado por discordâncias e o caso foi parar na Justiça. Muitos anos depois o Supremo Tribunal Federal (STF) entendeu que o Sport é o único campeão brasileiro daquele ano.

O tempo passou e a liga brasileira de clubes nunca chegou a ser criada. Desprestigiado, o Clube dos 13 foi perdendo força até que, em 2011, ele se desintegrou após a saída do Corinthians, que resolveu conversar diretamente com a Globo os seus direitos de transmissão.

ROBERTO MAIA É JORNALISTA, CRONISTA ESPORTIVO, EDITOR DA REVISTA QUAL VIAGEM E PUBLISHER DO PORTAL TRAVELPEDIA.COM.BR

sexta-feira, 11 de junho de 2021

COPA AMÉRICA NO BRASIL CAUSA DESCONTENTAMENTOS E POLITIZAÇÃO DO FUTEBOL

 POR ROBERTO MAIA

Jogadores da Seleção divulgaram manifesto onde disseram estar insatisfeitos e contrários à realização da Copa América pela Conmebol. (Foto: Lucas Figueiredo/CBF)

A Seleção Brasileira de futebol já não empolga tanto os torcedores como antigamente. Entretanto, ainda continua sendo uma referência forte e respeitada no mundo todo. Em tempos de pandemia, quando o Brasil vive escalada de pessoas infectadas pela Covid-19 e o número de vítimas já se aproximando de 500 mil, o futebol deveria ser uma forma de entretenimento onde os brasileiros pudessem encontrar um pouco de alegria nesses dias tão sombrios.

Apesar de dividir opiniões, os jogos dos campeonatos estaduais, Brasileirão, Copa do Brasil, Libertadores e Copa Sul-Americana seguem acontecendo em todo o país. Infectologistas garantem que os rígidos protocolos de higiene e saúde adotados garantem que a bola possa rolar nos gramados do país. A torcida segue fora dos estádios.

Tudo caminhava razoavelmente tranquilo por aqui até que a Argentina desistiu de sediar a Copa América por causa do avanço da pandemia. E eis que surge, do dia para a noite, o Brasil - país com o maior número de infectados e vítimas fatais no continente - como tábua de salvação para a realização do torneio. Consultado pela Conmebol, o governo federal deu o aval para a realização da competição.

Teve início aí uma verdadeira guerra política em torno da Copa América. Mais uma vez o futebol foi politizado, aumentando ainda mais a temperatura entre as correntes de esquerda e direita com seus membros se digladiando nas mídias sociais. Uma enxurrada de notícias falsas circulou freneticamente de Norte a Sul. Uma discussão que deveria ficar no âmbito esportivo e da ciência acabou indo parar no Superior Tribunal Federal para saber se a competição deveria ou não ser realizada no Brasil.

Tite foi atacado nas redes sociais e Rogério Caboclo afastado da presidência da CBF por assédio moral e sexual. (Foto: Lucas Figueiredo/CBF)

No meio desse imbróglio ideológico, os jogadores da Seleção e até o treinador Tite, antes uma unanimidade nacional, passaram a ser acusados e ofendidos por radicais. Pairou no ar a possibilidade de boicote dos jogadores e comissão técnica à Copa América. Até o vice-presidente da República, general Hamilton Mourão, chegou a sugerir que Tite pedisse demissão e fosse comandar o Cuiabá que está sem treinador.

Entretanto, após o jogo contra o Paraguai, válido pelas Eliminatórias da Copa do Mundo FIFA Catar 2022, a dúvida foi dissipada e tudo terminou em pizza. Tite segue na Seleção e os jogadores se limitaram a divulgar um manifesto em suas redes sociais, onde disseram estar insatisfeitos com a realização da Copa América pela Conmebol. “Em nenhum momento quisemos tornar essa discussão política. Temos uma missão a cumprir com a histórica camisa verde amarela pentacampeã do mundo. Somos contra a organização da Copa América, mas nunca diremos não à Seleção Brasileira", diz a nota.    

Não bastasse tudo isso, o presidente da Confederação Brasileira de Futebol, Rogério Caboclo, que contribuiu com a Conmebol na aproximação da entidade com o presidente Jair Bolsonaro para garantir o aval à Copa América no Brasil, acabou sendo afastado de suas funções pela Comissão de Ética da entidade por conta de uma acusação de assédio moral e sexual a uma funcionária da CBF.

ROBERTO MAIA É JORNALISTA, CRONISTA ESPORTIVO, EDITOR DA REVISTA QUAL VIAGEM E DO PORTAL TRAVELPEDIA.COM.BR

quinta-feira, 3 de junho de 2021

50 ANOS DO BRASILEIRÃO, UM DOS CAMPEONATOS MAIS DISPUTADOS DO MUNDO

POR ROBERTO MAIA

Flamengo e Palmeiras têm elencos superiores aos demais competidores e são considerados favoritos no Brasileirão 2021. (Foto: Cesar Greco/Ag. Palmeiras)

Começou no final de semana passado a 50ª edição do Campeonato Brasileiro de Futebol. Para celebrar a competição que é uma das mais disputadas do mundo, a Confederação Brasileira de Futebol (CBF) lançou até uma nova marca especial para 2021. A novidade pode ser notada durante as transmissões da TV, na entrada dos times em campo, nas imagens de bastidores e nas redes sociais.

A nova identidade visual do Brasileirão Assaí 50 anos está no pórtico de entrada das equipes, no totem da bola, nas placas de campo e até na tipologia dos números das camisas dos jogadores que agora é padronizada. Os perfis oficiais nas redes sociais - @brasileirao - também entraram no clima e passaram a publicar posts históricos e interativos com torcedores de todos os clubes.

O Instagram do Brasileirão apresenta conteúdos com momentos inesquecíveis; personagens importantes e suas declarações marcantes; melhores momentos de entrevistas; e posts com números e estatísticas dessas cinco décadas.

Ao longo das 38 rodadas, serão desenvolvidas outras ações. Haverá um troféu especial para o “Jogador do Mês”, patch dos 50 anos e homenagens a quem alimentou a paixão dos fãs de futebol nessas cinco décadas de títulos, jogos emocionantes, gols históricos, craques inesquecíveis e os grandes times da competição.

Com a bola rolando na primeira rodada ainda é impossível afirmar qual é o time com mais condições de levantar a taça em dezembro. Até porque, como já foi dito, o Brasileirão é um dos campeonatos mais disputados do planeta. Em todas as suas edições sempre uns dez times entram com chances reais de ser campeão. E esse ano não será diferente.

Mas ficou bem claro e evidente que o Flamengo e o Palmeiras, que aliás se enfrentaram na primeira rodada, têm elencos superiores aos demais competidores. Apesar da vitória sobre o Verdão, o Rubro-negro não teve vida fácil no jogo, tanto que o goleiro Diego Alves fez importantes defesas e foi um dos melhores em campo.

A primeira rodada também mostrou a força dos times do Nordeste. Ceará e Fortaleza venceram jogos difíceis contra Grêmio e Atlético-MG respectivamente. O Bahia passou por cima do Santos, fazendo três gols em apenas sete minutos. E o Sport que empatou com o Internacional, vice-campeão em 2020, em jogo disputado na arena do Colorado.

Chamou a atenção também a boa preparação de Bragantino e Atlético-GO, que venceram Chapecoense e Corinthians fora de casa.

Sinal de alerta ligado para Santos e Corinthians no Brasileirão 2021

Na estreia de Sylvinho, o Corinthians perdeu para o Atlético-GO e voltou a mostrar as limitações do seu elenco. (Foto: Rodrigo Coca/Ag. Corinthians)

Embora ainda seja prematuro fazer uma análise de desempenho de médio e longo prazo, a rodada inicial do Brasileirão mostrou que Corinthians e Santos estão vários degraus abaixo dos seus concorrentes. Ambas as equipes estrearam com seus novos treinadores, Sylvinho no Timão e Fernando Diniz no Peixe.

Ambos os treinadores terão muito trabalho pela frente. Até porque não podem contar com reforços para a temporada, face a difícil situação financeira dos dois clubes. Além disso, sempre demora algum tempo até os jogadores assimilarem a proposta de jogo dos novos “professores”.

No Corinthians, Sylvinho terá que mostrar que, apesar da sua bagagem de conhecimento, conseguirá obter sucesso em um grande clube já na sua estreia como treinador de futebol. Do lado santista, Fernando Diniz está em um outro estágio. Todos já o conhecem e sabem que a sua proposta de jogo demora para ser compreendida pelos jogadores. O certo é que os dois não terão muito tempo. Ou mostram serviço logo ou estarão desempregados em pouco tempo.

ROBERTO MAIA É JORNALISTA, CRONISTA ESPORTIVO, EDITOR DA REVISTA QUAL VIAGEM E DO PORTAL TRAVELPEDIA.COM.BR