Por Roberto Maia
Ángel Romero desperdiçou a “bola do jogo” aos 49
minutos d
o segundo tempo (Foto: Ag.Corinthians/divulgação)
Nos últimos anos, a
torcida do Corinthians se acostumou a assistir um time diferente em campo, que
privilegia a posse de bola, os toques de pé em pé, uma defesa eficiente e um
ataque na medida necessária. Passou a confiar cegamente no treinador Tite,
alçado à condição de herói e ídolo após a conquista do Libertadores de 2012 e
do Mundial de Clubes. Confiança reforçada ainda mais após levantar o
Brasileirão no ano passado. Tite fez por merecer tamanho respeito. Mas, seria
ele o responsável por estar enterrando a essência do Timão de time de raça, que
persegue as vitórias e não desiste nunca de chegar às redes adversárias dentro
ou fora de casa?
Tranquilo e muito educado
nas entrevistas, o professor sempre encontra um motivo para justificar os
resultados ruins e acaba por convencer a todos – imprensa, jogadores e
torcedores. O estranho é que a fiel torcida aceitou esse novo estilo de jogar e
também os argumentos do treinador.
Ontem, após a eliminação
dentro de casa para o Nacional (Uruguai), Tite mais uma vez desfiou seus
argumentos. Disse que o processo de crescimento vem com acertos e erros. “Nós
queríamos apressar etapa, passar, porque merecia na Libertadores e no Paulista.
Mas a efetividade nos tirou, o último terço do campo.” Entenderam? Traduzindo: a
falta de efetividade dos atacantes foi a responsável pela eliminação dentro de
casa. Mais uma vez, a quinta, em mata matas na arena.
Entendo que Tite deva
permanecer no cargo, afinal é considerado o melhor treinador do Brasil e cotado
até para a Seleção Brasileira. Está fazendo um excelente trabalho e superando
expectativas. Mas ele tem que passar para os jogadores o que é a essência do
Corinthians. Ontem quem foi o time mais aguerrido em campo e que brigou o tempo
todo pela classificação? Quem disse Nacional acertou. Não deveria ser o
contrário?
E como Tite explicaria o
sétimo pênalti perdido na temporada? E justamente pelo centroavante André, que
poderia ter mudado a história do jogo. O problema não é perder pênalti, coisa
normal no futebol. É perder sequência de penalidades mal batidas por jogadores
displicentes. Se André tivesse chutado forte, no alto e o goleiro defendesse,
mérito do defensor. Mas não foi o que aconteceu.
O atual Corinthians com
nove jogadores novos é muito imaturo e sem força psicológica para disputar
decisões, principalmente do porte de uma Copa Libertadores. Não fosse, Ángel
Romero teria convertido a “bola do jogo” aos 49 minutos do segundo tempo.
Tricolor avança – E o São Paulo, que era apontado como o mais fraco entre os brasileiros
na Libertadores, conseguiu avançar. Certo que o sofrimento tem sido grande para
os torcedores, mas o que importa é a classificação. E, diferentemente do
Corinthians, o time vem demonstrando espírito guerreiro e vontade de vencer. O
bom resultado dentro de casa garantiu a passagem à próxima fase do torneio,
mesmo com a derrota – indolor – de ontem. Mérito do treinador Edgardo Bauza,
que já venceu duas e sabe muito bem como se joga na Libertadores. Agora, o
Tricolor faz um clássico nacional e encara o Atlético-MG nas quartas de final –
que eliminou o Racing (Argentina).
Zebra inglesa – Quem poderia imaginar que o pequeno Leicester poderia conquistar o
título inglês superando adversários milionários e cheios de craques. Time que
normalmente apenas lutaria para não cair para a segunda divisão, tinha o quarto
elenco menos valioso no início do torneio. Com um artilheiro que há seis anos
atrás disputava a sétima divisão do futebol inglês. E um treinador, o italiano
Claudio Raniere, que somente agora, aos 64 anos, conquista seu primeiro
campeonato nacional. Mérito para ele que conseguiu convencer seus jogadores que
poderiam vencer adversários teoricamente mais fortes.
A vontade de vencer
sempre foi e sempre será decisiva. Entendeu Tite?
Edgardo Bauza já venceu duas Libertadores e sabe
muito bem
como se joga o torneio (Foto: Rubens Chiri/saopaulofc.net)