POR
ROBERTO MAIA
Corinthians terá imagens de
torcedores no jogo contra o rival Palmeiras (Foto: Reprodução Site Arena Corinthians) |
Após quatro meses da pandemia do novo coronavírus,
que nos impôs a um forçado distanciamento social, me levaram a algumas
reflexões sobre como a situação levou a profundas alterações no dia a dia do
futebol.
Os campeonatos foram interrompidos e os jogadores e
comissões técnicas foram colocados em quarentena. Os canais oficiais dos clubes
passaram a informar sobre as atividades físicas dos atletas, que passaram a ser
desenvolvidas em suas respectivas residências. Cada jogador recebeu indicações
do que fazer durante o período de inatividade.
O tempo passou e próximo da retomada dos
treinamentos presenciais, envoltos de cuidados e seguindo rígidos protocolos,
chegaram notícias de jogadores e alguns treinadores contaminados pela Covid-19.
O caso mais absurdo e surpreendente foi o Corinthians que teve mais de vinte
atletas infectados.
Pois bem, nesse clima de filme de ficção científica
os treinos retornaram e até campeonatos como o do Rio de Janeiro, por exemplo.
Então começamos a perceber o chamado “novo normal” no futebol. Tudo muito frio
e sem a vibração que sempre caracterizou o esporte. Assim, jogadores chegam
uniformizados aos treinos, evitam contatos físicos, utilizam equipamentos
individuais e ao fim da atividade retornam sujos e suados para suas casas para
o merecido banho.
Flamengo e Fluminense, tradicionais e ferrenhos
rivais, decidiram o campeonato estadual em jogos realizados em um Maracanã vazio
e sem vida, sem alma. Assisti à decisão nessa última quarta-feira e confesso
que senti uma profunda tristeza. O tradicional clássico que em várias ocasiões
reuniu multidões com mais de 100 mil pessoas no estádio, dessa vez tinha apenas
algumas dezenas de pessoas que estavam no local a trabalho. O Flamengo foi
campeão com um gol no último minuto do jogo e sua torcida não estava lá para
aplaudir, gritar e chorar de alegria.
Flamengo conquistou o 36º título do Campeonato Cariocas em um Maracanã vazio (Foto: Alexandre Vidal/Flamengo/Divulgação) |
E para aumentar o ineditismo da situação até a
transmissão do jogo foi diferente após anos sob o domínio da Rede Globo. A
final foi transmitida pelo SBT. A rede do empresário Silvio Santos não
transmitia um jogo de futebol há 17 anos. E foi uma transmissão estranha e até
um pouco confusa, além de encaixada entre uma novela mexicana e o Programa do
Ratinho. Sem equipe de esporte, solicitou o “empréstimo” do locutor Téo José
que é vinculado à Fox Sports, que foi liberado para narrar o jogo pela emissora
onde trabalhou durante anos. Nos comentários Jorginho, Athirson, Carlos Alberto
e Rivellino não acrescentaram muita coisa aos torcedores.
Na próxima semana teremos a volta do Campeonato
Paulista e logo de cara com outro superclássico do futebol mundial: Corinthians
e Palmeiras. O Dérbi que será disputado na Arena Corinthians também repetirá a
mesma frieza vista no Fla-Flu. Se antes da pandemia os jogos entre os grandes
de São Paulo já eram realizados com torcida única, o que considero um absurdo,
agora será ainda mais triste para o futebol.
O Corinthians mais uma vez usará gritos e cânticos
da torcida em seu sistema de som de última geração, além das faixas e fotos de
torcedores espalhadas pelos assentos da arena. Aliás, esses “privilegiados
torcedores” pagaram valores entre R$ 49,90 a R$ 299,90 para terem suas imagens
dentro do estádio vazio e silencioso. Coisas do futebol moderno!
ROBERTO
MAIA É JORNALISTA, CRONISTA ESPORTIVO, EDITOR DA REVISTA QUAL VIAGEM E DO
PORTAL TRAVELPEDIA.COM.BR
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