POR ROBERTO MAIA
Bandeiras do Corinthians tremularam pela primeira vez em um jogo oficial na Neo Química Arena. (Foto: Tino Simões) |
No jogo de sábado passado entre Corinthians e
Cuiabá, na Neo Química Arena, trouxe de volta uma cena comum até meados da
década de 1990 nos estádios de São Paulo: as bandeiras com mastro tremulando
nas arquibancadas.
Foram 26 anos de proibição, período em que a festa
dos torcedores ficou mais pobre. O espetáculo das bandeiras como forma de
expressão da paixão dos torcedores pelo clube de coração foi interrompido com o
pretexto de evitar o uso dos mastros de bambu em brigas entre torcedores. Não
evitou e a violência só aumentou.
Felizmente, há cerca de dois meses, o Tribunal de Justiça
de São Paulo deu parecer favorável à volta das bandeiras aos estádios
paulistas. Pena que elas estão permitidas apenas em setores restritos às
torcidas organizadas. Quem sabe mais adiante elas possam voltar a todos os
outros setores.
Jovens que hoje podem voltar a balançar uma bandeira
com o símbolo do seu clube não eram nem nascidos quando da proibição. Apenas
viam os vídeos no YouTube que mostram o espetáculo que as torcidas faziam nas
décadas de 1970 e 1980. Certamente sentiam inveja de seus pais e tios que puderam
viver aquela experiência de saudar seu time na entrada em campo tremulando uma
bandeira.
Torcedores que nem eram nascidos quando as bandeiras foram proibidas se revezaram durante todo o jogo entre Corinthians e Cuiabá. (Foto: Tino Simões)
Era comum um jovem torcedor querer ter a sua
bandeira. Que era produzida de forma rústica e artesanal. Definido o tamanho
era ir até uma loja e comprar o tecido nas cores do time. Depois, a mãe ou uma
tia era “intimada” a costurar e aquele amigo que “desenhava bem” pintava o
distintivo no centro. Enquanto isso, o orgulhoso torcedor se embrenhava no mato
a procura de um bambu do tamanho adequado.
Então era esperar a haste secar – bambu verde não
era bom – e marcar na folhinha o dia do jogo de estreia do chamado “bandeirão”.
Chegado o esperado dia, o mastro era amarrado no teto do carro e seguir para o
estádio. Alguns já levavam a bandeira hasteada ao vento através das janelas dos
veículos. Era muito orgulho!
Todo esse ritual fazia parte da festa que estava por
vir dentro do estádio. Infelizmente, toda uma geração foi privada desse prazer genuinamente
puro de poder levar uma bandeira ao estádio para saudar o time de coração.
O então governador Mário Covas, um orgulhoso
torcedor do Santos, não imaginou que ao sancionar a lei estadual nº 9.470, que
proibiu o uso de bandeiras com mastros em São Paulo, estava ajudando a
empobrecer a festa nos estádios. Tenho certeza que a intensão dele era evitar a
violência entre torcedores, mas não foi isso que aconteceu nos anos que se
seguiram. Chegamos até o absurdo de hoje termos torcida única nos clássicos
entre os times paulistas. Algo que precisa ser revisto com urgência. Afinal, as
brigas e mortes acontecem a muitos quilômetros de distância dos estádios.
Mas tomara que a partir de agora os torcedores de
São Paulo possam viver novos tempos. Com alegria e sem violência. Que as
bandeiras sejam apenas símbolos da paz e do amor pelo time.
Por enquanto estão liberadas apenas 10 bandeiras
para cada torcida organizada. Número insignificante perto do que se via
antigamente. Mas já é um recomeço.
ROBERTO
MAIA É JORNALISTA, CRONISTA ESPORTIVO E EDITOR DO PORTAL TRAVELPEDIA.COM.BR
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