POR
ROBERTO MAIA
O saudoso doutor Sócrates,
craque do Timão e da Seleção Brasileira, se juntou aos ex-jogadores em Boleiros 2 nas resenhas contadas na mesa do bar (Fotos: Reprodução) |
No último final de semana resolvi assistir novamente
os excelentes filmes Boleiros de Ugo Giorgetti. Minha motivação foi a morte do
ator Flavio Migliaccio, que cometeu o suicídio por causa da forma como os
idosos são tratados no Brasil. Lembrei que em Boleiros – Era uma Vez o Futebol, lançado em 1998, ele interpretou
o fictício Naldinho, um ex-jogador do Corinthians nas décadas de 1950 e 1960.
Em uma das cenas o veterano craque reclama com os amigos – todos antigos
boleiros do passado - dos efeitos da idade sobre o corpo e do esquecimento
público a que são relegados depois que deixam os gramados. É comovente a cena
em que ele olha a sua foto na parede do bar e não consegue se reconhecer.
O filme é classificado como comédia, mas também poderia
ser considerado um drama. Sim, porque as histórias relembradas são engraçadas,
porém revelam as dificuldades e desventuras dos craques que jogaram em grandes
times no século passado. Um passado recente do nosso futebol que também tinha
muito mais glamour do que o vivido atualmente.
A vida difícil dos ex-jogadores do passado é o tema
central do filme e narrada pelos amigos que se reúnem todas as tardes em um bar
da capital paulista, que tem as paredes cobertas por quadros com fotos de craques
do passado. Sentados à mesa, entre uma cerveja e outra, eles relembram de
momentos gloriosos e outros nem tanto do tempo em que ainda eram jogadores
profissionais e estrelas dos principais times do país. São histórias de
jogadores, técnicos, juízes e torcedores de uma época nem tão distante.
Adriano Stuart e Flavio Migliaccio (à dir.), que interpretou Naldinho,
um ex-boleiro que jogou no Corinthians nas décadas de 1950 e 1960
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No elenco, além do já saudoso Migliaccio, estão
nomes como Lima Duarte, que interpreta Edil, um treinador do Palmeiras; Marisa
Orth, uma hóspede gostosona do hotel onde os jogadores do Verdão se
concentravam; Cássio Gabus Mendes, um jornalista que ama o futebol; Otávio
Augusto, o árbitro Virgílio Pênalti, que é viciado em pôquer que vendia
resultados para saldas as dívidas; Denise Fraga, a mulher do craque Azul da
Portuguesa; Adriano Stuart, o ex-meia Otávio Alicate do São Paulo nas décadas
de 1970 e 1980; Rogério Cardoso, um ex-árbitro; João Acaiabe, ex-lateral da Seleção
que vende persianas para sobreviver; César Negro, que vive Mamamá a revelação
do Recife contratado pelo Palmeiras; Aldo Bueno, o craque Paulinho Majestade do
Santos e da Seleção Brasileira que sem dinheiro coloca à venda os seus troféus
no caderno de classificados do jornal; André Abujamra, o Pai Vavá; André Bicudo,
o atacante Caco do Corinthians; e muitos outros.
Otávio
Augusto deu vida ao árbitro Virgílio Pênalti, um árbitro corrupto viciado em
pôquer que “fabricava” resultados para pagar as dívidas
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Outro episódio interessante e sempre atual é o
vivido pelo craque Azul. De origem pobre, o jogador negro faz fama na Lusa,
passa a ser cobiçado por times da Itália e fica deslumbrado com a fama. Tanto
que deixa sua mulher e filho passando dificuldades financeiras enquanto gasta
muito dinheiro com mulheres fáceis e carros caros. Em uma das cenas, um golaço
creditado a ele foi na verdade anotado por Dener, um craque genial que perdeu a
vida ainda jovem em um acidente de carro.
Outro causo revela algo muito comum no futebol do
passado. Mostra Caco, um atacante do Timão que apesar da estrutura média do
clube sofre com uma lesão no joelho e fica longo período sem jogar. Ele só
volta aos gramados após ser levado por três torcedores amigos de infância e ligados
à torcida Gaviões da Fiel ao pai de santo Vavá na periferia da cidade. Voltando
à realidade, houve um tempo na década de 1980 que um pai de santo famoso tinha
até sala no Parque São Jorge. Outros clubes do Brasil também mantinham os seus
“protetores” de plantão. Um deles, o folclórico Pai Santana era, inclusive, o
massagista do Vasco.
No final do filme, enquanto rolam os créditos, uma
narração de um jogo fictício envolvendo craques de várias épocas na voz de Ciro
Jatene imitando o grande Osmar Santos é simplesmente antológica. Portanto, caso
você ainda não tenha assistido Boleiros,
fique até o final.
A boa aceitação do público pela obra de Giorgetti
gerou uma continuação em 2006, com Boleiros
2, que manteve boa parte do elenco original e ainda contou com a participação
de Sócrates, o craque-doutor que fez fama no Corinthians da Democracia
Corinthiana.
Pena o cinema brasileiro não olhar para o futebol
com mais carinho. Os bastidores dos clubes e dos boleiros é fértil e daria
ótimos filmes e até séries.
ROBERTO
MAIA É JORNALISTA, CRONISTA ESPORTIVO, EDITOR DA REVISTA QUAL VIAGEM E DO
PORTAL TRAVELPEDIA
Excelente descrição de uma época gloriosa do nosso futebol. Realmente é algo que deveria ser muito mais explorado, visto terem muitas histórias para serem contadas. Parabéns, Roberto Maia pela sua pistagem!
ResponderExcluirBrilhante descrição de uma época gloriosa, e nostálgica, de nosso futebol. Realmente é um espaço muito rico e fértil que deveria ser melhor explorado no cinema. Existem muitas histórias para ser contadas e mostrada de nosso futebol e dos personagens que fazem parte. Parabéns, Roberto Maia, pela sua postagem!
ResponderExcluirAproveitando: gostaria de fazer uma sugestão. Por que não aproveitar o espaço para relembrar a vida de jogadores de futebol do passado, numa espécie de homenagem. Com certeza você irá se deparar com histórias emocionantes e que valem a pena ser contadas. Pensa nisso.
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