POR
ROBERTO MAIA
Tombado
pelo Condephaat o estádio do Pacaembu, agora administrado pela iniciativa
privada, tem preservada a sua fachada imponente e histórica
(Foto: Gov. do
Estado de SP/Divulgação)
O estádio Paulo Machado de Carvalho, mais conhecido
como Pacaembu, queridinho dos paulistanos e ícone da cidade, comemorou 80 anos,
no último dia 27 de abril. Durante oito década ele recebeu milhões de
torcedores em jogos dos clubes paulistas e também da Seleção Brasileira.
Ironicamente, quis o destino que em seu octogésimo
aniversário ele não esteja recebendo nenhum jogo de futebol e sim doentes,
vítimas do novo coronavírus (Covid-19), no hospital de campanha montado no gramado.
Com 200 leitos de Unidades de Terapia Intensiva (UTI) e enfermaria,
infelizmente, o local deve receber lotação máxima até o final da semana.
Errou quem pensou que ele não servia para mais nada
e que agora, privatizado, receberia apenas eventos e jogos de times amadores.
Quem poderia imaginar que um dia ele serviria para esse propósito? Pois é, esse
é “o seu, o meu, o nosso Pacaembu”, como diz o bordão consagrado pelo locutor
do estádio, Edson Sorriso, que os torcedores se acostumaram a ouvir durante os
jogos.
O "homem pelado" do Pacaembu
A
famosa escultura de David, de Michelangelo, é uma das atrações turísticas de Florença
(Itália); a réplica que por mais de 30 anos enfeitou o Pacaembu hoje está no
bairro do Tatuapé (Foto: Pixabay)
Minha lembrança mais antiga do velho e querido
Pacaembu remonta da segunda metade da década de 1960, quando eu, ainda criança,
fui levado por meu pai para assistir a um jogo de futebol pela primeira vez no
estádio. Foi um dia inesquecível! Lembro que entramos por um portão oposto à
entrada principal. Ali, entre o final da arquibancada leste e a antiga e
charmosa Concha Acústica, havia uma estátua de um homem nu. Claro que aquilo me
chamou a atenção e fui logo perguntando ao meu pai quem era aquele “homem
pelado”. Ele me explicou que era uma réplica em tamanho real da estátua de
David, uma das mais famosas obras de Michelangelo - esculpida no século 16.
A estátua de cinco metros de altura foi retirada do
local em 1969, quando obras para aumentar a capacidade do Pacaembu tiveram
início. Infelizmente, a bela concha acústica foi demolida para dar lugar a uma
horrorosa arquibancada que logo foi apelidada de tobogã. David foi colocado na
praça Charles Muller, mas não ficou muito tempo por lá. Dizem que moradores do
bairro pediram à prefeitura a retirada daquele “homem pelado” para não chocar
as crianças e as moças que frequentavam o local.
Hoje a réplica de David já faz parte da história do bairro
do Tatuapé, para onde foi transferida em 1974 e repousa tranquila em frente aos
arcos da entrada do Centro Educativo, Recreativo e Esportivo do Trabalhador (Ceret).
A "casa" do Corinthians
Durante
80 anos, milhões de torcedores assistiram jogos dos clubes
paulistas e também
da Seleção Brasileira (Foto: Pixabay)
O Pacaembu foi inaugurado em 1940 com uma grandiosa
festa, que reuniu mais de 40 mil pessoas e que contou com a presença do então
presidente Getúlio Vargas, além de muitas outras importantes personalidades
políticas da época. O jogo inaugural colocou frente a frente o Palestra Itália
(atual Palmeiras) contra o Coritiba. O time paulista venceu a partida por 6 a
2. A rodada dupla teve também o jogo entre o Corinthians e o Atlético-MG, com
vitória do Timão por 4 a 2.
Em 1950, recebeu seis jogos da Copa do Mundo,
inclusive um da Seleção Brasileira contra a Suíça. E, embora sempre tenha
acolhido os times paulistas, o estádio municipal foi aos poucos se
transformando na casa do Corinthians, principalmente depois que o São Paulo
inaugurou o seu estádio do Morumbi na década de 1960.
Em 2012, dois anos antes de inaugurar a sua arena em
Itaquera, o Timão conquistou um dos seus mais importantes títulos no Pacaembu,
a Copa Libertadores da América. Taça que o Santos de Neymar também levantou, em
2011, no velho estádio.
Museu do Futebol inaugura exposição virtual
Localizado
dentro do Pacaembu, o Museu do Futebol aborda temas envolvendo a história e curiosidades do futebol brasileiro e mundial (Foto: Divulgação)
O recorde oficial de público aconteceu no dia 25 de
maio de 1942, quando 72.018 pessoas assistiram ao empate de 3 a 3 entre o
Corinthians e o São Paulo. O jogo marcou a estreia de Leônidas da Silva, o
Diamante Negro, no Tricolor. Na década de 1970, dois outros jogos registraram publicos superiores, porém o estádio já contava com o tobogã que aumentou a sua capacidade em 15 mil lugares em relação ao Majestoso de 42.
Consagrado nos campos da Europa, o craque Ronaldo
Fenômeno encerrou a carreira em jogo festivo no Pacaembu, em junho de 2011, quando a Seleção Brasileira venceu a da Romênia por 1 a 0.
Já o recordista de gols no estádio é Cláudio Cristóvam de Pinho (1922-2000), apelidado de “Gerente”, que jogou no Corinthians, seleções Brasileira e Paulista, além de Palmeiras, Santos e São Paulo após deixar o Timão. Segundo o jornalista e historiador Celso Unzelte, entre os anos de 1945 e 1957, ele balançou as redes do Paulo Machado de Carvalho 202 vezes.
Cláudio Cristovão do Pinho (Foto: Reprodução/Revista Corinthians) |
Já o recordista de gols no estádio é Cláudio Cristóvam de Pinho (1922-2000), apelidado de “Gerente”, que jogou no Corinthians, seleções Brasileira e Paulista, além de Palmeiras, Santos e São Paulo após deixar o Timão. Segundo o jornalista e historiador Celso Unzelte, entre os anos de 1945 e 1957, ele balançou as redes do Paulo Machado de Carvalho 202 vezes.
Em 1998, o complexo foi
tombado pelo Condephaat (Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico,
Arqueológico, Artístico e Turístico do Estado de São Paulo). E, no início desse
ano, foi concedido à iniciativa privada que irá fazer obras de modernização,
porém preservando a sua fachada imponente e histórica. Já o tobogã será
demolido e em seu lugar será erguido um edifício comercial.
O Museu do Futebol, instalado em uma área de 6,9 mil metros quadrados sob as arquibancadas do Pacaembu, continua funcionando no local. Ele é um espaço interativo, lúdico e multimídia, onde a história do esporte mais popular do Brasil se confunde com a própria história do país.
O Museu do Futebol, instalado em uma área de 6,9 mil metros quadrados sob as arquibancadas do Pacaembu, continua funcionando no local. Ele é um espaço interativo, lúdico e multimídia, onde a história do esporte mais popular do Brasil se confunde com a própria história do país.
Se você quiser saber mais sobre a história octogenária
do estádia aproveite a exposição virtual recém lançada: “Pacaembu: um estádio
monumento”. Ela está na plataforma digital Google Arts&Culture.
São mais de 50 imagens disponíveis para o público
explorar na tela do computador, tablet ou celular, além de dois vídeos de
época: um mostra o estádio ainda em construção e, o outro, o “Paca” pronto para
sua inauguração. Na exposição virtual, o público poderá explorar desenhos,
croquis e plantas arquitetônicas – realizadas ou não – do projeto em Art Déco,
além de notícias e fotografias publicadas dos anos 1920 aos anos 1940.
A exposição está disponível aqui .
ROBERTO
MAIA É JORNALISTA, CRONISTA ESPORTIVO, EDITOR DA REVISTA QUAL VIAGEM E DO
PORTAL TRAVELPEDIA
Grandes jogos de futebol aconteceram neste charmoso e aconchegante estádio. Muitas vitórias do Corinthians, e explosão de alegria dos fanáticos torcedores do Timão. Estádio que, até hoje, é considerado a casa dos Corinthianos. É importante resgatar a importância deste templo do futebol, não deixando que caia no esquecimento. Parabéns pela reportagem, Roberto Maia. Realmente muito boa!
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