POR
ROBERTO MAIA
Jogadores
do Liverpool ajoelhados no gramado do estádio Anfield Road
em solidariedade ao
movimento “Vidas Negras Importam”
(Foto: Andrew Powell/Liverpool FC/Twitter)
Fico muito irritado quando assisto entrevistas dos atuais jogadores de futebol. A maioria absoluta deles tem o mesmo discurso superficial onde falam e não dizem absolutamente nada. Alguns até demonstram rara habilidade com a bola nos pés, porém quando são chamados a darem opinião são rasos intelectualmente.
Nessas horas sinto uma imensa saudade de jogadores
como Afonsinho, que atuou nas décadas de 1960/70, e Sócrates, o ídolo do
Corinthians que jogou entre os anos 1970/80. Poderia citar outros mas vou me
ater apenas a esses dois craques. Ambos tinham em comum a habilidade técnica, a
inteligência, eram meias e médicos. Além desses predicados eles eram
politizados e não evitavam dar opiniões sobre os principais problemas políticos
e sociais do país. E isso em um período muito difícil politicamente na história
do Brasil.
Afonsinho, que jogou no Santos, Botafogo (RJ), XV de
Jaú, Olaria, Vasco, Flamengo e Fluminense, foi o primeiro jogador a conseguir
passe livre no Brasil, em 1971. Lembrando que esse direito os jogadores só
adquiriram 27 anos depois através da Lei n° 9615.
Já o Doutor Sócrates, como era carinhosamente
chamado pela torcida corinthiana, marcou época pelas posições políticas que
assumia dentro e fora dos gramados. Juntamente com Casagrande e Wladimir,
liderou o movimento que ficou conhecido como Democracia Corinthiana e participou
ativamente da campanha pelas Diretas Já, que pedia a redemocratização do Brasil. Ele
aproveitava o seu prestígio no futebol como instrumento para exercer sua
liberdade de expressão. Tanto que comemorava seus gols com o punho cerrado erguido
aos céus, tal como os Panteras Negras - movimento revolucionário dos Estados
Unidos.
Lidér da Democracia Corinthiana o Doutor Sócrates marcou época pelas posições
políticas que assumia dentro e fora
dos gramados (Foto: FIFA)
Justiça para George Floyd
Que bom ter visto o atacante Marcus Thuram se ajoelhando
após marcar um gol na vitória do Borussia Mönchengladbach sobre o Union Berlin,
no Campeonato Alemão. O francês repetiu o gesto de Colin Kaepernick, ex-jogador
do San Francisco 49ers da NFL (liga de futebol americano dos EUA), em 2017, durante
a execução do hino nacional dos EUA, em protesto contra a contra a violência policial
e a desigualdade racial no país.
Jadon
Sancho do Borussia Dortmund
(Foto: Reprodução Instagram Sanchoo10)
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Também na Bundesliga, o atacante inglês Jadon
Sancho, do Borussia Dortmund, protestou exibindo uma camiseta escondida sob o
uniforme do time com a mensagem “Justice for George Floyd” - “Justiça para
George Floyd” - após marcar um gol.
Durante toda a semana, muitos outros atletas também
se manifestaram através das redes sociais com as mais diferentes mensagens
sobre o mesmo assunto. Entre eles, o atacante do PSG, o francês Kylian Mbappé,
e o hexacampeão mundial de Fórmula 1, Lewis Hamilton, que tem mais de 5,7
milhões de seguidores no Twitter, O astro inglês postou um vídeo de uma jovem
negra americana chorando sobre o racismo nos EUA. Outra esportista negra, a tenista
Serena Williams propagou o vídeo “Don't Do It” da Nike juntamente com a
mensagem: "Não finja que não há problema na América".
Na Premier League, jogadores do Liverpool e do
Chelsea divulgaram fotos em solidariedade ao movimento contra o racismo. Em
ambas as imagens os atletas ajoelhados em sessões de treinamento das equipes. A
foto foi retuitada pelas contas oficiais de ambos os clubes.
No
centro de treinamentos de Londres os jogadores do Chelsea
também prestaram solidariedade
ao movimento contra o racismo
(Foto: Site Oficial Chelsea FC)
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Fico pensando se no Brasil os campeonatos já
tivessem sido retomados se os jogadores também iriam aderir em solidariedade
aos movimentos contra o racismo que acontecem mundo afora. Ou será que, apesar
da pandemia da covid-19 que está matando milhares de brasileiros diariamente,
iriam fazer dancinhas coreografadas na hora do gol. Melhor não saber!
ROBERTO
MAIA É JORNALISTA, CRONISTA ESPORTIVO, EDITOR DA REVISTA QUAL VIAGEM E DO
PORTAL TRAVELPEDIA.COM.BR
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