POR ROBERTO MAIA
Torcida do Corinthians apoia o time durante todo o jogo, mas também cobra e ameaça jogadores (Foto: Tino Simões)
Cenas como as dos jogadores do Corinthians sendo
ameaçados por integrantes de torcidas organizadas, quando desembarcaram no
Aeroporto Internacional de São Paulo/Guarulhos, vindo do Rio de Janeiro após
derrota para o Fluminense, nem causam mais tanto espanto. No Brasil,
infelizmente, ações violentas como essa já são comuns e, pior, corriqueiras.
Ironia do destino é que no jogo contra o Tricolor
carioca, os jogadores realizaram um minuto de protesto em repúdio à recente
invasão do estádio Orlando Scarpelli, em Florianópolis, durante treino da
equipe do Figueirense. Na oportunidade, um grupo de 40 torcedores armados com
porretes e disparando rojões, ameaçou e agrediu jogadores - um dia após a
derrota por 1 a 0 para o Paraná, pela Série B.
A Polícia Civil de Santa Catarina está investigando
e analisando imagens cedidas pelo Figueirense. O inquérito policial apura os
crimes de lesão corporal, ameaça, danos ao patrimônio e promoção de tumulto em
estádio de futebol. Resta saber se os responsáveis serão identificados e
punidos exemplarmente. A prática comum nesses casos são as diretorias dos
clubes “passarem pano” nas atitudes violentas das suas torcidas organizadas.
Até
o ídolo Cássio, um dos maiores goleiros da história do Timão, foi vítima da
fúria dos torcedores (Foto: Daniel Augusto Jr./Ag. Corinthians)
No caso que envolveu os jogadores do Corinthians nem
um boletim de ocorrência foi lavrado. O clube se limitou a divulgar nas redes
sociais uma fria nota de repudio onde lamentou o fato. Provavelmente ninguém
será responsabilizado, apesar das muitas imagens que circularam nas redes
sociais, além das câmeras de segurança do aeroporto.
O presidente do Corinthians, Andrés Sanchez,
lamentou o ocorrido mas contemporizou a atitude dos torcedores. Segundo ele, as
portas do CT sempre estiveram abertas para os torcedores realizarem “reuniões
de cobranças” com jogadores e comissão técnica. Ele diz isso como se fosse a
coisa mais normal no futebol mundial. Não fossem os seguranças do aeroporto que
ajudaram os do clube, agressões poderiam ter acontecido.
Em fevereiro de 2014, torcedores do Corinthians
fizeram algo parecido com o que aconteceu com o time do Figueirense. Durante um
treino no Centro de Treinamento do Timão, um grande grupo de torcedores invadiu
as dependências e ameaçou de agressão o elenco durante um treinamento. Os
jogadores tiveram que se esconder em uma das salas para não serem agredidos. Com
medo, chegaram a colocar armários atrás da porta para que ela não fosse
arrombada. O então treinador Mano Menezes e os jogadores Emerson Sheik e
Alexandre Pato foram os mais visados. A polícia foi acionada e os torcedores se
retiraram após negociação. E, apesar das inúmeras imagens disponíveis ninguém
foi preso ou responsabilizado. E, pior, a própria direção do Alvinegro disse
que as imagens das câmeras de segurança sumiram.
Centros
de treinamento são frequentemente invadidos por torcedores para cobrar
desempenho dos jogadores (Foto: Reprodução Facebook)
Mas os ataques dos torcedores contra jogadores não
são coisa recente. Em 1997, após um jogo contra o Santos na Vila Belmiro, o
ônibus que transportava os jogadores do Corinthians de volta a São Paulo sofreu
uma emboscada na Rodovia dos Imigrantes. O veículo teve a passagem bloqueada
por outro ônibus com cerca de 40 torcedores a bordo, que atacaram o busão do
Timão com paus e pedras. Vidros foram estilhaçados e o meia Rincón ficou ferido.
O motorista do ônibus corinthiano não abriu a porta, apesar dos pedidos dos
violentos agressores, o que evitou uma tragédia. Claro, ninguém foi
identificado e nem responsabilizado.
O fato é que ao longo dos anos nos acostumamos a ver
notícias de manifestações violentas de torcedores contra jogadores do próprio
time. Aconteceu com o Palmeiras, o São Paulo, o Flamengo, a Ponte Preta e tantos
outros clubes país afora.
A pergunta que fica é quem pode fazer alguma coisa
para acabar com esse jeito violento de cobrar tão comum entre torcedores
brasileiros? Os clubes evitam ir fundo com medo de represarias. Então cabe aos
órgãos de segurança e ao Ministério Público tomar providências. Antes que algo
pior aconteça.
ROBERTO
MAIA É JORNALISTA, CRONISTA ESPORTIVO, EDITOR DA REVISTA QUAL VIAGEM E DO
PORTAL TRAVELPEDIA.COM.BR
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